terça-feira, 30 de setembro de 2008


«Como criar uma relação duradoura com os consumidores
As empresas despendem cada vez mais tempo a tentar fidelizar os clientes. A evolução da relação cliente/marca tem vindo a ser associada à analogia: sedução, namoro e casamento. De uma forma geral, a ideia é captar primeiro uma parte dos negócios do cliente (sedução), depois tornar-se na marca preferida (namoro) e, por último, converter-se na única marca (casamento). Uma aproximação que se baseia em proporcionar experiências e tocar nas emoções dos consumidores. À semelhança do que acontece no casamento, as emoções estão perigosamente próximas do contexto das relações empresariais. Existe uma grande dimensão emocional que revolve à volta do conceito de confiança. Mas o consumidor também gosta de ter opções para explorar e mudar, se necessário. São nestes negócios casuais que os marketeers podem ganhar ou fidelizar potenciais clientes
Por: Maria João Vieira Pinto , Jan Hofmeyr e Larry A. Crosby»
-in Marketeer, edição de Setembro de 2008


A publicidade, qual propaganda da era contemporânea, é um dos pilares do capitalismo moderno e fonte principal da sociedade consumista, manipulando os comportamentos sociais de modo a criar padrões de aceitação entre individuos através dos produtos que um consome e ostenta.

Devido à produção constante destes mesmos produtos, deixar que a sociedade aproveitasse a total durabilidade destes seria condenar grande parte das indústrias já que os lucros ganhos num momento mais cedo ou mais tarde desapareceriam e a falência iria bater à porta no momento seguinte. Daí a necessidade de criar novas necessidades todos os instantes em que surgem novos produtos e a publicidade é a arma por excelência no estimular do comportamento consumista.


«É verdade que no vestir há um grau superior que na maior parte dos outros items de consumo, que as pessoas passam por consideráveis níveis de privação nos básicos necessários da vivência de modo a poderem adquirir uma quantia decente de consumo esbanjador; por isso não é uma ocorrência estranha, num clima inclemente, que as pessoas se tornem viciadas em roupa de modo a aparecerem bem vestidas.»
-Thorstein Veblen

O primeiro texto que citei (no topo do post) refere-se a um artigo da revista Marketeer, um magazine mensal cuja população-alvo de consumo são os profissionais de marketing e da publicidade e o artigo em questão fala de como tornar o comum do humano num consumidor inveterado, mas só a uma marca específica - num objecto de consumo específico.

O texto faz a analogia das relações marca-consumidor com as relações amorosas pessoais, procurando os peritos de publicidade elevar o consumo a um aspecto tão primal e libidinoso da nossa vida como a relação existente entre duas pessoas e caso o consumidor falhe na sua lealdade à marca, ao trocá-la por outra ou por pura abstinência de consumo, este sinta as consequências dessa liberdade ao nível do remorso.

Vincular emocionalmente o indíviduo ao consumo de uma marca é criar uma ligação abstracta e inútil à liberdade de pensamento e de acção do indíviduo, impondo-lhe comportamentos que não partem da sua iniciativa pessoal, senão da implantação duradoura dessas condutas através do bombardeamento publicitário que experimentamos desde que viemos ao mundo.

A concluir este post sobre consumo, liberdade e indivíduo deixo aqui um texto da autoria de José Vítor Malheiros, na edição do Público de 30/09/08, que fala precisamente deste tópico.

«Lavagem ao cérebro no banco de trás
Quando nos sentamos, o ecrã fica pertinho dos nossos olhos a dois palmos apenas. Mesmo quando não há ecrã, o campo visual à nossa frente já não oferece grande abertura, com os encostos de cabeça, o retrovisor, o taxímetro, o ecrã do GPS e os vários autocolantes no vidro, mas sempre é possível ir espreitando peo meio de tudo isso através do pára-brisas e ver as ruas por onde seguimos. Com o ecrã que está nas costas do encosto da cabeça do assento da frente torna-se impossível olhar em frente para outra coisa que não seja...o ecrã. O olhar é desviado sem apelo. A alternativa é torcer o pescoço e espreitar pela janela, mas o movimento colorido no ecrã, na margem do nosso campo visual, continua a atrair inevitavelmente o olhar. O resultado podem ser náuseas, quando se continua a tentar olhar para a janela, ou um estado de hipnoestrabismo, se se ceder à atracção do ecrã. E, em quaisquer dos casos, uma enorma irritação. Não nos esqueçamos que estamos a pagar ao ritmo do taxímetro pelo tempo que dura a lavagem ao cérebro.

O ecrã serve para mostrar publicidade e foi inventado por um génio do marketing - talvez mais do que um, uma ideia tão boa pode não ter sido concebida por um único génio - para tentar atingir aquele Santo Graal que consiste em ter todos os ciddãos do planeta a ser alvo de publicidade 24 horas por dia, sem intervalos para pensar ou agir autonomamente. Acontece que havia este slot totalmente desperdiçado: o tempo que as pessoas passam nos táxis, às vezes a olhar pela janela feitas parvas, por vezes a folhear o jornal, outras vezes sa falar com o taxista ou em ocupações igualmente improdutivas. E havia aqueles encostos de cabeça inúteis. O nosso génio lembrou-se de que era possível "acrescentar-lhes valor" com uns ecrãzinhos de televisão onde será possível exibir anúncios.

Os argumentos a favor são os habituais: a publicidade permite que o consumidor faça escolhas conscientes e informadas. Como a publicidade é excelente para as empresas e como o que é bom para as empresas é bom para todos nós, é evidente que estes ecrãs são bons para nós. E a prova final de que estes ecrãs são óptimos é que até são usados nos Estados Unidos.

É verdade que estes televisores têm o inconveniente de acrescentar mais um pouco de ruído ao ambiente já de si acusticamente agressivo dos táxis, onde ao barulho do trânsito se somam o rádio da central, a telefonia e o ocasional telefonema respondido aos berros, mas o que é isso ao pé do benefício civilizacional da publicidade?

Os ecrãs por enqunto ainda não têm anúncios e só "conteúdos" - curiosidades, informações turísticas -, mas um dia, se deus quiser, estarão cheios de anúncios. É só esperar que os anunciantes se dêem conta de como os ecrãs acrescentam valor aos encostos de cabeça e aos próprios táxis (e, por que não dizê-lo, aos próprios utentes dos táxis).

Como a desfaçatez dos gurus de marketing não tem limite quando espreita a possibilidade de ganhar um euro, não vale a pena esperar daí razoabilidade. E como a acção reguladora do Estado também não prima pela defesa dos cidadãos, o melhor será dar a mais este atentado à escassa liberdade que o quotidiano nos permite a resposta do mercado: não comprar.

Pelo meu lado, passarei a pedir ao telefone táxis sem TV e, se apanhar algum na rua, pedirei de imediato ao motorista para o desligar. Se todos fizessem assimm talvez os publicitários percebessem que não têm direito de nos roubar a calma, o direito a divagar, a reflectir, a não fazer nada, a andar na cidade sem mensagens comerciais a entrar-nos pela cara dentro e que o nosso tempo e o nosso olhar são nossos e não deles.»

sexta-feira, 26 de setembro de 2008


«Mas enquanto eles palram sobre leis económicas, homens e mulheres estão a morrer à fome. Temos de ter em conta que as leis económicas não são feitas pela natureza. São feitas por seres humanos»
-Franklin Delano Roosevelt, 32º presidente dos EUA

Os adeptos do liberalismo económico têm um comportamento muito semelhante aos dos reverendos americanos do séc. XVIII que proclamavam o apocalipse com data marcada para que no momento seguinte todos vissem Cristo retornar à terra e salvar os fiéis que resistiram ao mal que se tinha extendido por todo o lado.

Um liberal acredita que as purgas e crises do sistema capitalista são necessárias para que a "madeira podre" caia e a "árvore" continue frondosa e cheia de vigor. Digamos que uma espécie de selecção natural aplicada à sociedade, onde os fracos e incautos têm de desaparecer para que os fortes e prudentes continuem a liderar o mercado. O menor dos males, diz-se por aí.

José Manuel Fernandes, director do Público, disse de sua justiça no editorial de 25/09/08, adoptando esta postura escatológica e redentora do capitalismo e do mercado livre.

Dei-me a liberdade de retirar algumas partes do texto e contrapô-las a alguns factos interessantes:

«A Fannie Mae foi criada em 1938 pelo mais "socialista" (desculpe-se a ironia) dos presidentes dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, no quadro do New Deal, o programa de apoio às classes mais desfavorecidas que criou a base de muitos dos prograamas sociais ainda hoje existentes
-Muito bem, a base do argumento está criado, a crise começou há 70 anos quando o governo norte-americano decidiu intervir na economia. Aí está, se tivessem deixado o mercado trabalhar em paz, tudo se iria resolver, os processos darwinianos do capitalismo iriam regular a confusão que eles próprios tinham criado. Ou será?
Entre 1926 e 1933, o republicano Herbert Hoover ocupava o cargo de presidente norte-americano e qual era a sua postura em reacção à crise? O mercado livre, sem intervenção governamental iria resolver a crise. O que aconteceu? De uma taxa de desemprego de 9% antes de 1929 passou-se para uma de 16% em 1931 e esta estatística voltou a subir em 1933 com um quarto(25%) da força de trabalho norte-americana a ficar sem emprego. A produção no país caiu a pique e milhões de pessoas conheceram a pobreza e a subnutrição e aqueles com a sorte de permanecerem empregados encontraram salários reduzidos e horários aumentados.

O que reergueu a América? O "socialismo" de Franklin Delano Roosevelt e o seu New Deal. A criação de leis que providenciassem ajuda financeira às famílias mais atingidas com a crise, o intromissão do governo na economia de modo a criar emprego, tendo em conta não só as empresas como também os consumidores, criaram-se leis anti-monopólio, o estabelecimento do salário mínimo e o fortalecimento do papel dos sindicatos nas defesas dos trabalhadores. Teve de ser o Estado a limpar a porcaria que o capitalismo e o mercado livre causaram, não tivesse sido a intervenção estatal para salvar a Fannie, Freddie e AIG, os EUA estavam de momento a tomar um longo passeio pelo terceiro mundo dentro das suas fronteiras.

Existiram também fortes repercussões noutros países, tal como Canadá, Austrália, Reino Unido, entre outros. Disponho aqui o link onde fui retirar as informações: http://pt.wikipedia.org/wiki/Grande_depress%C3%A3o#Legado

«A função da Fannie Mae e da Freddie Mac era assegurarem que os bancos aceitavam conceder empréstimos a famílias de menores rendimentos para que estas pudessem comprar casa. (...) O que aconteceu nos Estados Unidos? Ao facilitar dinheiro barato sempre que a economia arrefecia, o Fed permitiu que o consumo privado se mantivesse elevado, funcionando como motor do crescimento. Mas ao mesmo tempo, criou estímulos para aqueles que não podiam comprassem casas que, num mercado onde o preço é determinado pela procura, subiram a preços disparatados. Porém, até porque existiam leis federais que o proibiam(...), a Fannie Mae e Freddie Mac continuavam a garantir os empréstimos para que os menos endinheirados continuassem a comprar casa
Estes últimos parágrafos não merecem pouco mais que algumas afirmações, sendo que a principal que se pode fazer é que a Freddie Mac e a Fannie Mae estão na situação actual devido a entrarem no mercado bolsista e responderem às pressões resultadistas do lucro imediato e fácil, esquecendo-se do seu objectivo de utilidade pública ao povo norte-americano de assegurar a cada indivíduo habitação própria.

Na óptica do director do Público, apenas os endinheirados e poderosos têm o direito de adquirir casa, os restantes «menos endinheirados» que se amanhem. Vivam ao natural. Não é isso que fazem 100 milhões de pessoas por todo o mundo?

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Aqui deixo um texto sobre a actual crise financeira mundial, da autoria de Rui Tavares que escreve para o Público na sua «Crónica sem dor».














* O Professor Pangloss foi uma personagem criada por Voltaire(acima)

«Gestor Pangloss

Enganados de novo. Andámos durante estes anos a aturar os consultores da Merryl Linch, os gestores da Lehman Brothers, os génios financeiros da Goldman Sachs - para vermos, numa só semana, qu enem da casa deles sabem cuidar.
Quantas vezes os ouvimos dizer que tínhamos de "desregular", ou que havia controlos demasiado "rígidos" sobre o mercado, ou que não tínhamos dinheiro para pagar saúde aos cidadãos, ou a universidade aos estudantes, ou que os privados fariam melhor com as nossas pensões de reforma? Pois bem, o contribuinte americano deve estar bem lixado, neste momento, ao ver que o dinheiro que não havia para reparar pontes e diques já terá que aparecer para safar todo o sistema financeiro desregulado.
E no entanto há sempre crentes. Tal como havia membros do Politburo que se felicitavam pela robustez da RDA enquanto o Muro de Berlim caía. Alberto Gonçalves, no DN, supõe que as "falências sejam sintoma do perfeito funcionamento" do sistema.
António Borges continu a defender a privatização da Segurança Social, alegando que as pensões privadas nos EUA não entraram em colapso, só perderam grande parte do seu valor. E o programa de John McCain diz que o sistema de saúde deve ficar mais parecido com o sistema financeiro.
A ideia é que as falências sucessivas são uma purga "natural" e que a seguir à desregulação temos de desregular mais ainda. Esta gente era capaz de viver na Idade Média e não só dizer que a peste negra era uma coisa óptima como defender que a cura era esfregar os abcessos bubónicos uns nos outros.
No séc. XVIII, Voltaire criou o Professor Pangloss, personagem que representava o filósofo dogmático que, por mais desgraças que visse - massacres, estupros, escravidão -, dizia sempre que "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis". Não seria difícil recriar, hoje em dia, a personagem do gestor Pangloss ou do político Pangloss. A tua empresa faliu e foste despedido? Isso é estupendo, porque o mercado se liberta espontaneamente das ineficiências. Os bancos deram cabo do jogo? É a purga necessária após um período de exuberância. Houve gente que perdeu casas, seguros de saúde, pensões de refoma? Wunderbar! Tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis. Estás a morrer de uma infecção generalizada? Sim, mas repara que as bactérias fozam de excelente saúde.
Esta gente fala em desregulação e liberdade mas não percebe que viver sob o jugo destas empresas de sucesso é levar uma vida de regras leoninas, em letra miudinha, em que não resta liberdade alguma para o cliente, o empregado que lhes deu o tempo da sua vida ou o contribuinte que vai ter de lhes salvar o couro. Se há azar, chama-se-lhe ajustamento e espera-se que todos fiquemos saciados com a explicação. Pela mesma lógica, também o terramoto de 1755 foi só um ajustamento das placas tectónicas.
Aos sofistas do mercado falta-lhes entender o que dizia Protágoras: "o Homem é a medida de todas as coisas" - para si mesmo naturalmente. Mas é de nós que estamos a falar. O maravilhoso funcionamento da teoria fez vítimas na prática. Esta é a medida última: não o mercado, não as empresas, não o sistema financeiro - mas as pessoas.»

domingo, 21 de setembro de 2008

«O fascismo deveria ter o nome de Corporativismo, porque é a junção do Estado com o poder corporativo»
- Benito Mussolini

sábado, 20 de setembro de 2008

Veio a público no dia 19 de Setembro a existência de um cartel entre sete empresas privadas de catering que forneciam as refeições já preparadas a escolas e hospitais públicos durante nove anos, lesando o Estado em 172,6 milhões de euros.
Devido a esta acção de cartel, as sete empresas -Gertal, Itau, ICA, Bordiga, Eurest, Uniself e a Sodexo- seráo excluídas de concursos públicos por um período de dois anos e ser-lhes-á aplicada uma multa no valor de «38 milhões de euros, ou seja, 10% dos seus volumes de negócios.».
-informações retiradas do Diário de Notícias do dia 20/09/08

Pela primeira vez vou citar um adepto do mercado livre, que define através de suas próprias palavras a importância da economia na sociedade. É o conhecimento da realidade tangível, tanto em Portugal como no mundo, que estas palavras traem as convicções de quem as proferiu.

«A economia não é sobre coisas ou objectos materiais tangíveis, é sobre homens, o seu significado e as suas acções.»

-Ludwig Von Mises

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

«Não gosto que nos chamem ladrões»
- Manuel Ferreira de Oliveira, presidente da GALP

Um exemplo de como em Portugal, também a ganância é o motor moral do corrente sistema económico e suas instituições, é a actual controvérsia à volta dos preços nas gasolineiras.
A SIC Notícias transmitiu uma peça noticiosa através da qual ficamos a saber que os preços actuais da gasolina e gasóleo estão inflacionados 5 e 6 cêntimos respectivamente ao que deviam custar. O que dá às distribuidoras de combustível em Portugal um acréscimo diário de lucro de um milhão e cinquenta mil euros(e esta soma é apenas contando os cinco/seis cêntimos a mais).
Como não podia deixar de ser, esta quantia vem directamente do bolso dos consumidores.
- http://sic.aeiou.pt/online/noticias/dinheiro/gasolineiras.htm

Quanto ao "imbatível" argumento do nosso Imposto Sobre os Produtos Petrolíferos ser alto demais, é de relembrar que estamos dentro da média da UE a 15:
«Em relação ao gasóleo: Portugal 48%, UE15: 49%; e à gasolina: Portugal: 60%, UE15: 59%.»
- http://resistir.info/e_rosa/precos_combustiveis_2008.html#asterisco



«Para a ganância, toda a natureza é insuficiente»
-Séneca
«É preciso que o investimento público acompanhe o investimento privado»
- José Sócrates na inauguração das obras do complexo petroquímico em Sines


Este tipo de filosofia política em que a economia é deixada às mãos do interesse privado e que o Estado não é senão uma major instituição auxiliar na maximização dos lucros corporativos, lança luzes sobre a política do governo para o país, em que o Serviço Nacional de Saúde diminui e o Ensino Superior fica numa situação muito perto da insolvência financeira.

O importante não são os cidadãos, são os privados, que podendo trazer investimento ao país também trazem muitas das vezes um custo inacessível dos seus produtos à grande parte da famigerada classe média portuguesa.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ao tomar atenção à actual situação financeira deparei-me com o nome curioso que puseram à crise: «Crisis Ninja».

A razão por detrás da nomeação desta crise nada tem a ver com motivos bélicos ou referentes aos antigos guerreiros japoneses, mas numa conjugação de siglas que aqui exponho e logo a seguir traduzo: «No Income, No Job, No assets»(*). Apesar de literalmente a crise ter de se chamar NINJNA, a bem da originalidade adaptou-se a sigla para NINJA, que traduzida (e bem adaptada) em português daria algo como «Sem Rendimentos Fixos, Sem Emprego Fixo, Sem Propriedades». SRFSEFSP seria o nome da crise caso esta fosse baptizada por portugueses.

*- http://leopoldoabadia.blogspot.com/search/label/%2B%20ANEXO%201%20Crisis%20NINJA


Ora, a crise, como se tem vindo a saber, foi causada pela ganância dos bancos que emprestaram dinheiro com juros altos a clientes de grande risco para comprarem casa numa altura em que o preço de uma subia em muito pouco tempo (ver o site aí em cima para aprofundar os conhecimentos sobre a minha afirmação).

O típico comportamento das instituições bancárias, sem qualquer regulação por parte do Estado, combinado com a insaciabilidade de lucros, não olharam objectivamente a situação individual de cada cliente a pedir um empréstimo criou uma nova onda de sem-abrigos nos Estados Unidos da América.

A situação é tão grave que 21,4% destes indíviduos que pediram empréstimos subprime aos bancos acabarão por ir para a rua ; só em 2005, 1 casa em cada 5 adquiridas eram financiadas por este tipo de empréstimos. Adicione-se o facto dos subprimes estarem disponíveis ao cliente desde 1994, pode-se ter uma visão de quantas pessoas poderão vir a ficar sem tecto nos tempos futuros(*).

*- informação retirada de http://www.californiaprogressreport.com/2007/03/the_subprime_fo.html


Deixo-vos também um link do youtube onde poderão ver uma peça noticiosa da BBC sobre a nova vaga de sem-abrigos norte-americanos:

- http://www.youtube.com/watch?v=eBIJH6--vsM
(Lamento não poder colocar directamente o vídeo. Não é por falta de vontade, é por falta de engenho.)


Tendo em conta que um número considerável de pessoas estão em risco de ficar sem casa, seria de pensar que a nação americana e o próprio mundo se mobilizasse num debate sobre os nefastos efeitos de mais uma crise capitalista - que as tem uma vez por década, mas dizem os peritos liberais que o capitalismo funciona - que lançaria na miséria milhares ou mesmo milhões de pessoas, porém qual não é a minha surpresa quando vejo uma notícia da TVI sobre o assunto e ouço cidadãos americanos a defenderem a nacionalização de grandes multinacionais num país com 35,9 milhões de pessoas a viver numa pobreza abjecta(*) e em que, segundo Joe Biden, um terço da riqueza nacional é controlada pelo 1% da população mais rica do país.

Como é possível uma população querer salvar as multinacionais dos seus próprios erros enquanto cidadãos desse mesmo país não têm a direito a ajuda fiscal significativa, apoios do Estado - apenas 14% do PIB americano é dedicado à Segurança social(*2) -ou até acesso a serviços básicos que deveriam ser públicos(Saúde, Educação)?

Atingimos uma sociedade em que a máxima «Capitalismo é o socialismo dos ricos» atinge a sua mais alta expressão, com a «privatização dos lucros e socialização das perdas», resultando numa distribuição maior de recursos para ajudar as populações mais favorecidas e uma escassez de recursos, rendimentos e ajudas para quem realmente precisa delas(*3).

* - http://money.cnn.com/news/specials/poverty/

*2 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_do_bem-estar_social

*3- http://en.wikipedia.org/wiki/Socialism_for_the_rich_and_capitalism_for_the_poor

Esta crise e as soluções propostas para acabá-la com o uso do dinheiro dos contribuintes é mais uma prova de que a democracia perde terreno para o capitalismo, ao não conseguir que o esforço e contributo de cada cidadão seja usado para melhorar a vida desses mesmos cidadãos, mas para amparar a queda dos poderosos que exploram as massas, através da estagnação ou aumento de salários abaixo da inflação e por taxas de juro que tornam sofrível a vivência do dia a dia da classe média e impossível a sobrevivência das camadas mais desfavorecidas da sociedade. Tudo isto enquanto a elite corporativa e governativa escapa impune aos efeitos nocivos da sua própria ganância.

Termino dando voz ao economista britânico Keynes, um defensor do capitalismo controlado pelo regulamento governamental, para evitar os males próprios deste sistema económico.

"O capitalismo é a surpreendente crença que o mais mal intencionado dos homens fará a mais mal intencionada das coisas para o maior bem de toda a gente."

-John Maynard Keynes

segunda-feira, 15 de setembro de 2008


«As pessoas vivem na ilusão de que temos um sistema democrático, mas é apenas uma forma aparente de um. Na realidade vivemos numa plutocracia, um governo dos ricos»
- José Saramago

Compreender verdadeiramente as instituições de poder na nossa sociedade é chegar à conclusão que os valores democráticos nela já nada valem. É procurar a liberdade democrática e encontrar os valores elitistas de uma Plutocracia.

A palavra Plutocracia significa "governo dos ricos", uma versão da oligarquia (governo dos mais poderosos) adaptada aos modernos tempos económicos.
Pela sua própria natureza, a plutocracia é um sistema de poder contrário à democracia, cujo significado é «governo do povo» ou «governo popular», pois a primeira concentra os poderes de decisão governativa numa elite, excluindo a demais parte da população que assim se vê privada de voz activa nas principais decisões da sua comunidade,região ou país, decisões essas que mais tarde o vão afectar no seu quotidiano, quer na sua vertente profissional ou pessoal, onde poderá ver mais limitadas ou expandidas as possibilidades de melhorar a sua qualidade de vida.

Uma mal-estar surge de imediato quando alguém forma a suspeita de um governo das elites no actual estado "democrático" no mundo. Porém esse pensamento generalizado advém da existência quase global de eleições na maioria das nações mundiais onde a população elege os seus líderes sem que tenha qualquer palavra a dizer sobre as opções que estes tomam quando estão no poder.



«Eleições livres de mestres não abole os mestres ou os escravos.»
- Herbert Marcuse

O que acontece quando as elites tomam controlo do poder das nações e populações? Estas usam-nas para os seus próprios interesses, senão vejamos as actuais políticas do governo norte-americano para a solução da crise actual ao baixar impostos que benificiarão muito mais as famílias com rendimentos anuais acima de um milhão de dólares, do que as famílias com rendimento médio de 56 000 $, pois enquanto as mais ricas poderão contar com mais 58 000 $ por ano, a grande parte da população norte-americana terá apenas mais 1180$ contabilizados. Quem quiser saber mais e tenha conhecimentos de inglês, ponho aqui em baixo o link do artigo onde fui buscar as informações.
- http://www.nytimes.com/2007/01/08/washington/08tax.html


Dentro da civilização ocidental é na Europa que se vai mais longe na tentativa de tornar a vida mais fácil ás empresas e aos nossos plutocratas, ao aumentar o horário de trabalho semanal «de 48 para 60 horas[e até ao máximo de 78 horas]», esta directiva parece ir de encontro ao novo conceito de flexi-segurança que dizem ser a resposta para um mercado de trabalho maisflexível. No entanto esta «Liberdade Laboral»(Labour Freedom) como designam os neo-conservadores americanos do The Heritage Foundation vem apenas tornar mais fácil despedir empregados precários(recibos verdes ou estagiários), pois numa União Europeia onde a taxa de desemprego é de 6,8% e onde em alguns países chega aos 10%, é muito fácil a uma administração ou patrão arranjar alguém disposto a trabalhar por menos sem que este reclame por mais direitos laborais.
- in Courrier Internacional, Edição de Setembro, pág. 30.


Na Ásia, as multinacionais têm carta branca para se instalarem e explorarem as populações locais. Neste registo de exploração surgem empresas como a «Nike, Reebok, Adidas, Puma, Hi-Tec» . Neste site(*), o autor deste artigo explica a história da Nike na Ásia, focando-se na sua política de emprego, ao pagar apenas o salário mínimo aos trabalhadores - 2,50$ por dia,na Indonésia, quando o rendimento necessário à sobrevivência diária neste país custa 4 a 4,5$. Porém, temos também o exemplo do Vietname, local em que três refeições diárias custam 2,10$ e os operários vietnamitas da Nike ganham 1,60$ por dia.Sem referir a obra de mão barata na China, em que centenas de milhões de camponeses deste país enchem as fábricas das grandes multinacionais e em que recebem pouco mais que o salário mínimo e vivem miseravelmente, ou o trabalho infantil na Índia. Mas isso,será tema para outro post.
(*)- http://www.clrlabor.org/alerts/1997/nikey001.html


Na América do Sul e em especial na Colômbia, empresas que valem biliões como a Chiquita(a multinacional das bananas) financiou vários grupos para-militares colombianos de direita (AUC; ELN) e esquerda (FARC) para massacrar 24 homens da aldeia de Chengue,neste artigo reportam-se que as mortes foram executadas através de «esmagamento do crânio com pedras e uma marreta». A tomada de terrenos férteis ao crescimento da banana foi a razão desta multinacional financiar grupos terroristas para matança de civis.
- in http://upsidedownworld.org/main/content/view/684/1/

Também na Colômbia, a Coca-Cola, uma das mais carismáticas marcas mundiais pagou serviços a grupos para-militares para matar oito lideres sindicais de fábricas em vários locais deste país (Pasto; Carepa; Monteria; Baranquilla). Além da morte de sindicalistas,os para-militares contratados pela Coca-Cola «torturam, raptam ou detêm ilegalmente» trabalhadores de modo a quebrar a luta por mais direitos e mais condições de trabalho que respeitem as suas condições humanas. Para quem quiser saber mais sobre este caso, disponho aqui o site.
- http://www.killercoke.org/crimes.htm


Em África tudo o que é mau no mundo parece assumir proporções cem vezes maior e neste site(*) existe um artigo com o qual ficamos a saber que as principais empresas que distribuem e vendem chocolate beneficiam de mão-de-obra infantil costa-marfinense, de facto, 40% das reservas de cacao no mundo residem na Costa do Marfim e este é extraído por cerca de «109 000 crianças que laboram em condições péssimas», como reconhece o Departamento de Estado Americano. Desse número 15 000 são crianças dos «9 aos 12 anos», muitas delas vindas do Mali, «que foram levadas em engano ou vendidas à escravatura nos campos de cacau da África Ocidental, muitas por apenas 30$»Apesar da Nestlé estar a par desta tragédia e ter jurado pôr-lhe cobro, a multinacional«falhou».
* - http://www.doublestandards.org/exchange1.html


Outro exemplo da exploração das populações dos países de terceiro mundo vem da indústria do café, onde apenas quatro empresas multinacionais - Proctor and Gamble, Philip Morris,Sara Lee e a Nestlé(outra vez...) - controlam cerca de 40% das vendas de café a nível mundial. Mas enquanto as distribuidoras desta matéria alimentar estão a lucrar com os preços crescentes deste produto, o preço dos grãos de café pago aos produtores desta cultura têm descido. Ou seja, temos uma situação em que uma bica custa tanto quanto um quilo inteiro de grãos de café: 50 cêntimos.

E este negócio atinge países no coração de África como a Etiópia, Burundi, Uganda, Burundi e Zimbábué como nações da América Latina, Colômbia, México ou Guatemala. Quem quiser um conhecimento mais aprofundado sobre esta situação, visite a minha fonte.
- http://revcom.us/a/v23/1110-19/1110/coffee.htm


«Os defensores do capitalismo são muito aptos a apelar aos princípios sagrados da liberdade, que são encarnados numa máxima: Os afortunados não podem ser restringidos do exercício da tirania sobre os desafortunados.»
- Bertrand Russel

sábado, 13 de setembro de 2008

Num mundo onde o capitalismo vai deitando abaixo as últimas liberdades e direitos dos cidadãos substituindo-as pelas liberdades dos agentes económicos, é necessário repensar o conceito de democracia e das liberdades que esta nos tem vindo a dar.

Os defensores do liberalismo económico observam qualquer remoção dos direitos de cidadania e dos trabalhadores como um triunfo da liberdade. Um triunfo da economia e do mercado livre. Contudo, como pode ser liberdade privar os cidadãos de um sistema de saúde público? Como pode ser liberdade privar os cidadãos de um sistema educativo público? Como pode ser liberdade não ajudar os mais desfavorecidos e desempregados de uma sociedade marcada pelo estigma da competividade do sistema capitalista? Como pode ser liberdade proibir e minimizar as hipóteses de luta sindical por parte dos trabalhadores?



«O que é a liberdade quando uma classe de homens pode deixar outra com fome? O que é igualdade quando o rico pode, pelo seu monopólio, exercer o direito de vida e morte sobre os seus semelhantes? Liberdade, Igualdade, Républica, tudo isto não passa de um fantasma»

- Jacques Roux.
citação removida de História do Anarquismo, pág.37


O grande equívoco dos defensores do mercado livre é confundir liberdade com indiferença, pois a existência de 1400 milhões de «pessoas a viver com menos de 1,25 dólares por dia» não é a face da liberdade e quando uma crise alimentar surge por acção especulativa dos agentes económicos do mercado livre, percebe-se que a verdadeira face do capitalismo e dos seus favorecidos é a indiferença insultuosa por milhares de milhões de pessoas que vivem numa situação de pobreza extrema, motivada somente pela procura do lucro de quem já tem a sua vivência diária mais do que assegurada.
-número tirado da edição do Avante de 04/09/08, que retirou esta informação das estatísticas do Banco Mundial.


É necessário repensar a democracia pois esta caminha perigosamente para a entrega total dos direitos e liberdades da cidadania aos agentes económicos, dando asas ao horizonte da privatização da vida e da redução do ser humano a recurso e instrumento que tanto pode ser precioso num segundo como dispensável no outro, dependendo dos humores da economia. Esse tipo de comportamento e autoritarismo sobre a dignidade e condição de um ser humano leva de imediato à relativização deste mesmo. E uma sociedade onde o Ser Humano não é a medida de todos os seus métodos, processos e relações internas é um local onde a democracia não existe, apenas o simulacro propagandístico dela.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008


"São os trabalhadores que constroem estes palácios e cidades, aqui na Espanha e na América e em todo o lado. Nós, os trabalhadores, conseguimos construir outros para tomar o seu lugar. E melhores! Não temos, de todo, medo das ruínas. Nós iremos herdar a terra; não há a mínima dúvida sobre isso. A burguesia poderá rebentar e arruinar o seu próprio mundo antes de deixar o palco da História. Nós carregamos um melhor mundo aqui, nos nossos corações. Esse mundo cresce neste mesmo instante!"
- Buenaventura Durruti