quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Paulo Varela Gomes, cronista do Público com a sua Cartas de Cá, reflecte sobre a relação intelectual entre a moderna direita liberal e Darwin, explicando porque razão esta ala política dá asas a um anti-humanismo declarado.

«Em 2009 faz 150 anos que foi publicado A Origem das Espécies de Charles Darwin (1859), um dos livros mais importantes de todos os tempos. Darwin foi detestado pelo pensamento reaccionário no século XIX por ter tornado Deus uma hipótese desnecessária (a frase é de outro evolucionista, Lamarck, não é de Darwin) e a direita religiosa norte-americana abomina-o ainda hoje. Mas serviu a direita laica e moderna, racista e fascista do século XIX e do início do século XX que precisava de justificar a preponderância dos mais fortes sobre os mais fracos.

A nova direita moderna também gosta muito de Darwin: o aniversário do livro foi assinalado em tons de festa pela sua revista porta-voz. a Economist, no número de Natal de 2008. Parece que esta direita descobriu, através dos seus think-tanks, as muitas virtudes do darwinismo, já não as raciais, mas as sociais e económicas. Debaixo da legitimação de Darwin seria possível dizer-se, como escreve a Economist com rara grosseria, que o crescimento económico é infinito, mas que sempre haverá pobres.

(...)

hoje, a direita moderna, livre do passado antigo de que já só se reclama para parecer bem na missa de domingo, sem vergonha e sem problemas, deixa às Igrejas o que é de Deus e ao Capital o que é do Homem. E o Capital é outro nome para a sobrevivência dos mais aptos. Não admira que vá repescar Darwin.»

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