quinta-feira, 27 de agosto de 2009

I don't want your millions, mister...

Ao contrário do que os "artistas" de algumas correntes musicais professam nas letras das suas músicas, o povo trabalhador não quer os milhões e "a vida boa". Quem trabalha, quer dignidade, salários justos e condições de vida humanas.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Coragem operária em tempos de medo


Quem vive e comungue as condições de vida da classe trabalhadora cedo chega à conclusão que os intermináveis tempos de "crise" deixam pouco espaço à reivindicação de mais direitos e renumerações mais justas.

Quem olhar para as notícias e os testemunhos dos operários nas fábricas, reconhece que estes, muitas vezes, abdicam de horas de descanso e direitos laborais para impedir que a empresa em que trabalham e ajudaram a construir não se afogue e sucumbe no meio da "competitividade" capitalista. E nas indústrias, essa competitividade é feita a nível mundial com países de terceiro mundo, onde a classe trabalhadora é explorada até à proto-escravatura e a servidão.

O caso da Qimonda, empresa construtora de semicondutores e chips (produtos informáticos de alta tecnologia), é uma exemplo de como um negócio foi mantido à custa da negação de direitos justos dos trabalhadores, os operários desta fábrica chegaram a trabalhar 12 horas por dia e os seus salários sofreram um corte de 40% do valor e o lay off de alguns dos assalariados, apesar da Comissão de Trabalhadores afirmar que a empresa "não estão mal financeiramente", existindo ainda "muito dinheiro" e que a "encomenda de 5 milhões de unidades de memórias RAM feitas há algum tempo" já "implicou a chamada de 75 trabalhadores que estavam em lay off".

Porém, a situação da Qimonda não é o principal tema deste post.

Desde há algumas semanas tenho vindo a conhecer um exemplo enorme de coragem operária, de seu nome, Fátima Coelho.

No Norte do País, em Vila Nova de Famalicão, a empresa Fersoni, que se dedica à produção de têxteis, Fátima Coelha, com 25 anos de trabalho na Fersoni, com uma "ficha disciplinar limpa, sem qualquer repreensão ou castigo" foi eleita delegada sindical em Maio de 2006.

Ora a administração da empresa, vendo o exemplo de união dos trabalhadores da fábrica, iniciou à operária e sindicalista uma ofensiva de "terrorismo psicológico", que começou pela instauração de um processo disciplinar em Setembro de 2006 por se ter levantado da linha de produção para ir buscar uma água com que matar a sede e em Dezembro do mesmo ano acabou mesmo por ser despedida após ter sido acusada de roubar uma peça de vestuário.

Fátima Coelho, que durante meses não se vergou à opressão patronal para desanimar os operários da Fersoni, também não desistiu após o seu despedimento e juntamente com o seu sindicato de classe levou o caso a tribunal, do qual se confirmou a sua inocência e a obrigação da empresa em reintegrá-la.

A administração da Fersoni não se dando por derrotada, negou-se a pagar os salários em dívida à operária, passando a ser necessária a «execução judicial de património da empresa» para saldar a dívida.

A coragem e a lealdade aos seus colegas de trabalho levaram Fátima Coelho a ser eleita pra a direcção do Sindicato Têxtil do Minho e Trás-os-Montes, mais tarde para a União dos Sindicatos de Braga e em 2009 para a FESETE, federação sindical do sector.

Apesar de levar uma actividade sindical consoante os «estritos termos» da Lei, a administração da Fersoni, continuou a sua cruzada de vergar a sindicalista, ao criar um ambiente cada vez mais hostil ao ponto de pagar um salário de 333 euros em moedas de 1 euro e mais recentemente fazer passar um abaixo-assinado pelos trabalhadores da Fersoni que teriam de escolher entre a permanência de Fátima Coelho na empresa ou a existência da própria empresa, passando mesmo à coacção de algumas trabalhadoras para fazer vencer este vergonhoso abaixo-assinado.

A União dos Sindicatos de Braga já organizou uma concentração de solidariedade frente à fábrica da Fersoni para mostrar que Fátima Coelho, que passou por inúmeras provações, não está sozinha e aqueles que têm um compromisso com a classe trabalhadora não a abandonam.

Em tempos de medo, na qual a "crise" é usada como desculpa para o corte de salários, lay offs e deslocalizações, encontrar um exemplo como o de Fátima Coelho, é encontrar esperança e admiração, é ver que a coragem aparece em sítios e alturas que parece menos propícia ao seu surgimento.

Kant afirmava que ou se "tinha um preço ou uma dignidade", Fátima Coelho, não vendeu os seus princípios e ao fazê-lo afirmou uma dignidade de classe que faz dela um símbolo de resistência, coragem e dignidade.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Em modo de leitura...

Nas últimas semanas, por obrigações de trabalho e por dedicação intensa à leitura tenho descuidado o blogue. Com muitas notícias por discutir e temáticas para reflectir, ponho ao vosso dispor links directos para um artigo intensivo sobre as eleições "democráticas" no Afeganistão, bem ao estilo da dos EUA e suas bengalas por esse mundo fora, outro sobre a profundidade da crise e a sua natureza nas "ricas" Islândia e Letónia, não esquecendo o golpe de estado ilegal e de características fascistas levados a cabo pela oligarquia militar nas Honduras, na Itália a exploração dos trabalhadores migrantes é cada vez maior ao ponto de chegar à escravatura, isto ao mesmo tempo que situações de pobreza absoluta e desumanidade proliferam numa Itália dominada por Berlusconi.

Deixo também um artigo para quem estiver interessado em conhecer as verdades históricas sobre o Nazismo, seu surgimento e crescimento após a queda da República de Weimar e de como a Banca anglo-americana o construiu e sustentou em tempos de crise de 1929, um texto de reflexão sobre a construção da "autoridade" de alguns grupos mediáticos como fontes de informação.

Ando a ler o "Socialismo Traído", obra de investigação histórica séria sobre as razões que levaram ao colapso da URSS e uma boa oportunidade para ficar a conhecer a realidade da passada pátria socialista, sem a habitual propaganda capitalista.

Deixo por fim, uma voz americana, Pete Seeger, que pergunta, como a música de agora quase deixou de perguntar e intervir, uma questão deveras incómoda: De que lado estás?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

quinta-feira, 13 de agosto de 2009



«Leis Hadopi2 e Alfano


Big Brother na Europa

Depois do Conselho Constitucional francês ter chumbado a primeira versão da lei de Criação e Internet, conhecida como lei Hadopi, por considerar o acesso à Web um direito fundamental, o governo de Nicolás Sarkozy voltou à carga e fez aprovar no Senado, nas últimas semanas, uma nova versão do diploma, o Hadopi2.

A discussão na câmara alta gaulesa foi realizada num tempo recorde, com os eleitos a dispor de escassos minutos para apresentarem os seus argumentos. Quase todas as propostas de emenda indicadas pela oposição foram rejeitadas (na qual, ao contrário de Outubro passado, se incluíam também os senadores do Partido Socialista Francês), com uma excepção, a possibilidade dos acusados de partilharem ficheiros protegidos por direitos de autor poderem solicitar uma audiência e fazer-se representar por um defensor legal, embora, importa frisar, o executivo de Sarkozy tenha igualmente em projecto acelerar a decisão judicial nestes casos, que podem ascender a centenas de milhares, em menos de uma hora.

Acresce que a actual versão da norma, que se esperava que fosse votada anteontem, dia 21, na Assembleia Nacional, difere da primeira apenas porque transfere a competência de interrupção do fornecimento de Internet de uma autoridade administrativa para um tribunal, mas, ao invés, inclui no texto o termo «comunicações electrónicas», o que faz temer que a correspondência via e-mail possa vir a ser vasculhada pelas autoridades.

Comentários punidos

Mas não só na França se aperta a malha aos internautas. Também na Itália, o projecto-lei Alfano visa restringir a liberdade de expressão na rede.

De acordo com informações divulgadas pelo rebelion.org, o diploma pretende universalizar o direito de réplica estendendo-o aos blogs e às páginas pessoais, com a agravante de que os multados, num valor que pode chegar aos 12 mil euros, tanto quanto contempla a lei transalpina a respeito da difamação em órgãos de comunicação social, não terão que ser condenados por uma autoridade judicial antes que seja executada a punição.

Em protesto contra a lei Alfano, sábado, milhares de bloggers italianos abstiveram-se de publicar qualquer conteúdo. Uma concentração foi ainda realizada na Piazza Navona, em Roma.

Artigo publicado na Edição Nº1860» do Avante!

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Começou...


Hoje foi aprovada a Lei 32/2008, que permite o armazenamento dos «registos das comunicações que produzimos através de telefone móvel e fixo e através da internet» pelos «operadores de telecomunicações» e que estarão «à disposição da justiça durante um ano».

Como diz o blog RadioMoscovo «as nossas chamadas, os nossos e-mails, os nossos sms, os endereços que visitamos na internet, tudo isso vai ser alvo de retenção. A data, a hora do inicio e do fim e a duração das comunicações, com quem comunicamos e a localização mas - dizem eles - não o conteúdo.»

O Portal de Thrasybulos já referiu a existência desta lei e a sua futura concretização, porém, quem quiser consultar a lei, pode fazê-lo aqui.

Vindo da Europa, o securitarismo vai-se instalando como medida recorrente de cada vez que se quer "assegurar" o bem-estar e a ordem dos cidadãos, do "terrorismo" e outras forças que preocupam o Capital.

A lei diz que esta nova vertente das autoridades será posta em prática «para fins de investigação, detecção e repressão de crimes graves», sendo que crimes graves são considerados
«crimes de terrorismo, criminalidade violenta, criminalidade altamente organizada, sequestro, rapto e tomada de reféns, crimes contra a identidade cultural e integridade pessoal, contra a segurança do Estado, falsificação de moeda ou títulos equiparados a moeda e crimes abrangidos por convenção sobre segurança da navegação aérea ou marítima.»

E eis como, subrepticiamente, sem que ninguém realmente se importe (com excepção dos mesmos de sempre, comunistas, anarquistas...), com a Comunicação Social dominante demasiado ocupada a cultivar a ignorância colectiva, um novo tipo de autoritarismo, cozinhado à pressão da "necessidade" de segurança, é instalado e eis que começam o «ataque brutal contra a democracia e liberdade».

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Sobre a "sociedade livre" da União Europeia


Quando se fala sobre a União Europeia quase sempre é no âmbito da controvérsia que gira à volta da continuação de Durão Barroso na chefia da Comissão Europeia e qual o papel da futura presidência sueca do Conselho.

É a questão, dita esta e outra vez, de que a UE precisa de uma liderança forte, de um líder capaz, talvez até providencial.

Junte-se este discurso ao endeusamento do Obama e eis que nos deparamos com uma linha de pensamento que promove o culto do chefe, ao bom jeito de providenciais líderes de outra altura.

Mas todo este discurso, controvérsia e protagonismo em volta do desejado líder, não tem apenas o objectivo de introduzir no espaço público o discurso político do culto de chefe. Serve também para desviar as medidas que irão ser aplicadas na prática pela próxima presidência sueca do Conselho Europeu e que continuam as directrizes do securitarismo e da vigilância controleira dos povos europeus.

O que se vai passar é que a União Europeia, utilizando o pretexto do terrorismo e de ter um Espaço Único de Liberdade, Segurança e Justiça (que permite a livre movimentação de pessoas, produtos, serviços e capital), irá alargar os poderes da Frontex, instituição da UE que gere, conjuntamente com os país membros, o controle das fronteiras, para armazenar e aceder a dados pessoais dos cidadãos europeus de forma automática e sem a permissão dos Estados que fazem parte da UE.

«Através da aplicação do «princípio da convergência» entre medidas de segurança interna e de segurança externa, justificadas pelo combate ao terrorismo e aos imigrantes, a UE procura legitimar um conjunto de iniciativas que a consolidem como bloco imperialista, em parceria com os EUA. Atacando frontalmente a soberania nacional, o programa definirá princípios comuns no que se refere ao armazenamento e transmissão de dados pessoais, a criação de entidades resultantes da fusão de organismos de controlo fronteiriço de pessoas e bens e novas competências para a agência que vem coordenando o controlo das fronteiras dos países da UE com países terceiros, a FRONTEX.

O «princípio da convergência» será de igual forma alargado a missões em países terceiros, o que poderá significar o uso de militares, paramilitares, polícia, protecção civil e outras agências sob comando de agências europeias. Pretende-se também com a aplicação deste princípio que o armazenamento de dados pelas agências de informação e segurança que actuam dentro e fora da UE seja harmonizado através de sistemas de informação compatíveis entre elas, para que todas possam aceder à informação de forma automática. O que até agora se fazia numa base de cooperação caso a caso, passa a ser feito automaticamente e sem necessidade de autorização do país em causa. Estão a ser desenvolvidos sistemas (software e hardware) que permitirão esta harmonização na recolha e armazenamento de dados, e a vigilância sobre viagens e comunicações, assim como sistemas de partilha de dados, análise de comportamento, recolha de indicadores biométricos (ex: fotografia, impressões digitais, altura), etc.

(...)