quinta-feira, 17 de junho de 2010

A "nossa" selecção

Há algo de farsa na nossa selecção. Já tinha suspeitado no Mundial da Alemanha de 2006, reparado no Euro 2008 e agora sinto-o com toda a certeza no torneio da África do Sul.

Recordo-me do primeiro torneio internacional em que Portugal participou, o Euro 1996 em Inglaterra, da qualificação falhada para o Mundial de França de 1998 e o Euro 2000 e podia dizer que me identificava com aquelas selecções. Entrávamos nos jogos como uma selecção que, acima de tudo, queria honrar a camisola e dignificar o país no âmbito desportivo.

Apesar de na altura termos jogadores em grandes clubes como o Figo no Barcelona, o Rui Costa na Fiorentina, Dimas na Juventus e Paulo Sousa no Dortmund, estes nunca tiveram comportamento de "prima-donna". Eram elementos importantes, mas nenhum deles a "salvação" da equipa. Simplesmente bons jogadores com talento.

Hoje, mais do que nunca, a selecção não passa de um conjunto de egos supermediatizados, têm jeito para a bola mas para o futebol há que ter sentido de colectivo. A própria selecção é mais da Sonae, da Worten e da Nike do que "nossa".

Todo o marketing que abarca os jogadores até à própria selecção como entidade colectiva tem vindo a torná-la um produto comercial e não na representação desportiva do país em jogos internacionais.
Também não noto um mínimo de sentido pátrio na grande parte dos jogadores, que encaram o Mundial como uma catapulta para a glória pessoal ou uma transferência milionária e a oportunidade de representar o país como um modo de incensar as suas próprias vaidades.

A comercialização do futebol, impulsionada pela FIFA de Blatter, mais não fez que tornar o desporto-rei num circo mediatizado de milionários promovidos a "estrelas". O jogo em si tornou-se no pretexto para uma rede de negócios fraudulentos e altamente prejudiciais para os Estados e demais entidades públicas encarregues dos torneios.

Por entre a palhaçada mediática, os jogadores sobrevalorizados e um patriotismo bacoco lá hei-de apreciar o futebol por aquilo que é, um desporto bonito onde se procede a tentativa de encontrar a harmonia colectiva num contexto de circunstâncias que mudam a todo o instante.

E já agora, aproveito para declarar a minha simpatia pela equipa da Coreia do Norte.

1 comentário:

Fernando Samuel disse...

E com estas doses familiares de futebol nos média, a política do governo passa para um plano secundário...

Um abrço.