quarta-feira, 10 de junho de 2009




Findas as eleições europeias, é tempo de reflexão.

Em Portugal:

- Em Portugal, houve um claro reforço da esquerda, com a forte votação e subida da CDU e do BE. É de esperar, no entanto, que o BE "emagreça" nas legislativas, pois foi esta força política que captou a maioria dos votos de protesto contra o PS e o governo.

- Vitória do PSD advém não de uma aprovação social da linha ideológica que o PSD patrocina, mas de uma campanha de marketing político que se destacou dos demais, falando de propostas(muitas delas inconsequentes) e medidas, indo além do chavão político. No entanto, o PSD ao propôr, num dos seus cartazes, que os fundos europeus fossem usados para combater a crise, cai num erro, já que os fundos europeus que Portugal recebe já vêm destinados para sectores económicos específicos. Paulo Rangel foi uma lufada de ar fresco para desanuviar o PSD da figura bafienta de Manuela Ferreira Leite. As legislativas podem vir trazer essa verdade ao de cima.

- O PS foi o único e claro perdedor destas eleições e esta derrota vai muito além da prestação miserável de Vital Moreira. A culpa vem principalmente das políticas que o governo tem andado a tomar. Durante três anos, Sócrates e o seu concelho de ministros tem vindo a adoptar medidas de direita, tendo em vista a flexibilização e precarização da classe trabalhadora, de modo a facilitar a classe patronal e os interesses monopolistas. No entanto, com a crise do Capitalismo, o mesmo governo pôs o liberalismo militante de lado e chegou até a criticar aqueles que faziam a apologia do Estado Mínimo, alardeando de seguida a Comunicação Social com políticas sociais, críticas às privatizações e com a nacionalização do BPN.

»No entanto, o povo pode ter memória curta mas não tem amnésia. O eleitorado de esquerda, não se esqueceu das políticas de direita e desconfia desta nova face "esquerdista" do governo, ao mesmo tempo que o eleitorado de direita se afastou deste novo Sócrates.

»Ou seja, o governo tentou agradar a gregos e a troianos e deu-se mal. Vamos ver quanto do voto de protesto volta à casa "socialista" nas legislativas.

- Mais uma nota sobre a CDU. São, acima de tudo, oportunistas as vozes que afirmam ter havido uma "derrota à esquerda" através da CDU. Uma força política que ganha mais 1,6% na votação comparativamente às últimas eleições europeias, obtém mais 70 mil votos e sobe em percentagem em todos os distritos, é uma força política vencedora.


Na Europa:

-Vitória estrondosa da Direita. Os partidos que fazem do liberalismo a sua linha ideológica e promovem o Mercado Livre acima de qualquer valor obtiveram a sua vitória, reforço político e aprovação social das suas ideias. Muitos factores podem advogar estes resultados:

»A Social-Democracia incorporada pelos partidos do centro-esquerda caiu como modelo de sociedade. A linha ideológica que serviu para afastar o eleitorado dos partidos comunistas na Europa Ocidental durante a Guerra-Fria, oferecendo-lhes a possibilidade de políticas de "esquerda" ao mesmo tempo que permitia a existência do Mercado Livre, murchou por já não fazer sentido no mundo actual. A esquerda moderada confundiu-se com a Direita política naquilo que é fundamental no edificar da sociedade e da economia.

» Contribuiu também para a vitória da Direita toda a aclamação propagandística de que a resolução para a crise actual é a regulação financeira, em vez de políticas concretas que beneficiem os trabalhadores e o Estado Social.

»A subida preocupante da extrema-direita xenófoba e racista mostra o que acontece quando os ideais de igualdade e liberdade para todos sem excepção são deixados ao abandono para se abraçar sem hesitação o Mercado Livre. A desregulação do mercado laboral, o tratamento do trabalhador como mercadoria à disposição do patronato e a categorização do emprego como favor dado pelo patrão, transformam a sociedade num local colectivo competitivo, onde o outro é um rival. A vitória do racismo e da xenofobia é apenas um resultado óbvio do consolidar da Moral Capitalista no espaço social e pensamento político.

- Porém, existe igualmente um sinal de esperança nestas eleições. A consolidação dos Verdes como força política válida e capaz de apresentar um projecto de futuro aos cidadãos da Europa e de cada país em específico. Especial destaque para a votação dos Verdes Franceses de Cohn-Bendt com 17,5, igualando o fracturado e desacreditado Partido Socialista Francês.

- Abstenção estrondosa tanto no plano nacional como europeu. Os media dizem que as pessoas estão desiludidas com os políticos actuais. Se assim fosse, elas teriam ido votar nulo ou em branco, o facto de nem sequer terem ido votar significa que as pessoas começam a não acreditar no sistema político em si e no debate de ideias em particular.

*BE elegeu 3 deputados e não 2

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