Com o anúncio do terceiro PEC o país entra na onda de austeridade brutal que tem corrido a Europa desde o início da crise.
Após a ajuda bilionária prestada à banca sem qualquer hesitação ou preocupações com o futuro impacto nas contas públicas, eis que a dívida bate à porta reclamar o seu pagamento e os governos querem liquidá-la sacrificando os direitos sociais, laborais e os serviços públicos. O chamado Estado Social.
O Estado Social foi uma conquista da luta dos trabalhadores mas igualmente um instrumento da Burguesia para refrear a caminhada da classe dos produtores em direcção a um sistema socialista que garantisse o triunfo do Trabalho sobre o Capital e todas as forças reaccionárias.
A derrota do Socialismo na Europa de Leste e o enfraquecimento das organizações reivindicativas dos trabalhadores devido à globalização capitalista foi o toque de partida para o desmantelar progressivo do Estado Social.
As antigas pátrias socialistas viram o seu património, indústria e serviços públicos serem desmantelados e vendidos a preços da chuva ao Capital e a indígenas oportunistas em terapias de choque que condenaram os povos à pobreza, os trabalhadores à exploração e as nações à subserviência ao Capital.
Já onde o Estado Social tinha criado raízes históricas, nomeadamente nos países europeus deste lado da "cortina de ferro", foi-se impondo o Capitalismo total aos poucos através de privatizações dos sectores empresariais estatais. Privatizações essas que muitas vezes eram levadas a cabo por partidos com palavreado de esquerda mas com historial de ligação ao Capital e que pela sua aura progressista perante o eleitorado eram os agentes ideais para desmantelar as conquistas dos trabalhadores.
O enredo do que se seguiu até aos dias de hoje foi simples. Entregando ao Mercado as principais fontes de receita pública passou-se ao estrangulamento financeiro dos serviços públicos e começava o início da privatização de serviços essenciais à população como a Saúde e Educação com as malogradas parcerias público-privadas onde o Estado se afundava com os custos dos projectos enquanto os lucros eram arrecadados pelos privados.
Com a crise e a histeria que quis justificar a entrega de milhares de milhões do erário público à banca entrou-se num processo vertiginoso da destruição do Estado Social e as forças políticas que antes geriam pausadamente o fim dos direitos sociais viram reforçadas as suas posições de executores da agenda dos Mercados.
Agora só falta a estes comissários políticos da Burguesia liquidar os direitos laborais e os seus ataques aos interesses populares continuarão com o reforço do aparelho securitário do Estado e a descaracterização das leis eleitorais democráticas e pacotes fiscais garantindo desse modo que a democracia liberal assuma todo o seu "esplendor", ou seja, o rapto de todos os aspectos da vida social e económica pelo Mercado e as suas excrescências burocráticas.
O rumo político da "esquerda" que manuseou e abusou do Estado Social é dos mais curiosos mas segue uma coerência atroz. Desde os brados inflamados saídos do Maio de 68 até ao "patriótico" apelo de sacrifício para salvar as contas públicas, passando pela "defesa" da democracia em laivos anti-comunistas, a estratégia essencial destas forças políticas "bem-pensantes" foi manter o controlo dos sectores estratégicos da economia e do aparelho estatal pela Burguesia, para que num momento de fragilidade do movimento operário e comunista internacional, como o actual, se passasse à rápida ofensiva aos direitos conquistados após décadas de luta dos trabalhadores.
Perante este cenário, escusado será dizer que a Luta dos povos e da classe trabalhadora é o único caminho a seguir, mas há que ser paciente e resoluto nas convicções pois só a intensidade duradoura das reivindicações populares poderá determinar a dinâmica do devir da História e quem sabe se numa futura jornada de luta europeia ou greve geral não se desencadeie o processo histórico em que por fim, como canta Labordeta, «haverá um dia em que todos, ao levantar a vista, veremos uma terra que ponha Liberdade».