sexta-feira, 11 de setembro de 2009
"A História irá julgá-los..."
Faz hoje 36 anos que um país foi mergulhado em 17 anos de opressão fascista.
O Chile conheceu um período de políticas progressistas fundamentadas no socialismo que visavam a nacionalização dos principais sectores económicos - o cobre, que representa 40% das exportações chilenas e 37% das reservas mundiais do metal; procedeu-se também a 90% da nacionalização da Banca- e pôr fim à dependência estrangeira da economia, com relevo para os EUA.
Através do lema «A democracia vive-se, não se delega» implementou políticas a nível institucional que visavam a democratização da sociedade, a nível social mas também no processo de decisão político.
As políticas progressistas da Unidade Popular, encabeçada por Allende, trouxeram a «segurança social e assistência médica no campo e nos bairros pobres urbanos; leite grátis para todas as crianças até aos 15 anos e para as mulheres grávidas; publicação de livros a preços populares; férias para os trabalhadores e incentivo à sua educação; legaliza-se a Central Sindical.»
Os resultados não se fizeram esperar e as condições de vida do povo chileno melhoraram à medida que as políticas são implementadas, «o progresso económico e social é esmagador. A produção industrial aumenta 11 por cento; o PIB cresce 7 por cento; o desemprego caí de 8,3 para 4,8 por cento; o número de casas construídas aumenta 20 vezes; os salários reais crescem 66 por cento e os assalariados passam a deter 59 por cento do Rendimento Nacional».
Allende queria instituir uma via latino-americana para o socialismo, instaurando-o dentro do próprio sistema democrático.
Óbvio que isto incomodou a burguesia chilena e transnacional e cientes das enormes transformações a favor do povo trabalhador, unem-se de modo a fazer a «economia chilena uivar de dor», com encerramentos em massa das unidades produtivas e através de uma campanha difamatória da revolução que toma alguma «pequena burguesia» e parte dos media. Contudo, e apesar da economia ter sofrido «vários revezes», a Unidade Popular volta a obter vitória nas eleições de Março de 1973 com uma votação de 44%.
Mas a Burguesia não se dá por derrotada e com o apoio financeiro dos EUA investindo «7 milhões de dólares nas forças reaccionárias e na desestabilização económica e política do país» -contando-se até um encontro com o presidente da Pepsi na altura, Donald Kendall, de modo a coordenar a transição para a ditadura - consegue derrubar a força progressista no poder e instaurar um fascismo que duraria 17 anos, tornando-se o primeiro laboratório do neoliberalismo, com a execução de Pinochet e a mentoria de Milton Friedman, economista que sacralizou o mercado livre e recebeu um prémio nobel da economia em 1976.
Com a subida de Pinochet ao poder e sob a batuta do ideal neoliberal de Friedman «as nacionalizações foram revertidas, os activos públicos vendidos, os recursos naturais abertos à exploração desenfreada, e a segurança social foi privatizada. As firmas estrangeiras foram cortejadas, gratificadas e garantidas quanto ao direito de repatriarem lucros.»
Se houve objectivo que Milton Friedman, a quem já chamaram "campeão da liberdade", atingiu e que ninguém lhe pode retirar é a estabilização da inflação...através de desemprego maciço e de Estado Social inexistente.
De modo a garantir todo este paraíso de liberdade, nada mais democrático que a supressão de qualquer oposição, aprisionando todos os insurrectos que se "atreviam" a enfrentar a "liberdade" de Friedman, que se inspirou noutros dois campeões do Mercado Livre, Hayek e Mises.
A instauração da ditadura no Chile é também um exemplo perfeito de um estilo político particular e que Naomi Klein descreveu em livro, a Terapia de Choque, ou seja, o aproveitamento de tempos conturbados para implementar políticas pró-Mercado Livre.
O 11 de Setembro também é a data do ataque às Torres Gémeas, data que politicamente marca o início do século XXI e do seu novo inimigo, o Terrorismo, data em que um suposto inimigo invisível mas presente em todo o lado, sem cara mas que se pode mostrar a qualquer altura em qualquer lado, "atemoriza" a vida das gentes comuns.
Desde essa data, duas guerras foram iniciadas, no Afeganistão e no Iraque, sob o pretexto de serem nações que apoiam o terrorismo, as liberdades civis foram severamente atacadas com a crescente construção de um sistema de vigilância electrónico, cibernético e na arquivação de dados pessoais. Tudo em nome da protecção da Civilização Ocidental e da sua indefectível "Liberdade".
Quem reparar no Iraque, país agora devastado com um povo retirado da sua própria soberania, pode encontrar semelhanças entre o que Pinochet e Friedman fizeram e a linha ideológica que o proconsul americano no Iraque, Paul Bremer, levou a cabo e realizou definindo «uma carta de direitos ao capital estrangeiro, incluindo o direito de comprar empresas públicas do Iraque; possuir negócios iraquianos; repatriar lucros; possuir bancos iraquianos; estar livre de barreiras ao comércio e ao investimento e pagar pouco imposto. Para assegurar o capital estrangeiro de que também teria o direito ao trabalho barato, Bremer baniu greves em sectores chave e restringiu severamente a sindicalização».
Entre 1973 e 2003 a diferença reside apenas no país e no pretexto, ontem o Chile e o Comunismo, hoje o Iraque e Afeganistão e o Terrorismo. Porque as manipulações políticas, o deprezo pelos povos e o afã de ter mais uma nação, mão-de-obra barata prestes a ser explorada e uma fonte de recursos naturais à disposição continua a ser a mesma e nunca mudará até que os trabalhadores se unam e refutem por completo aqueles que os subjugam.
Um dia, a História não deixará de julgar os perpretores de 1973 e 2001, e nas palavras de Allende, «quem faz a História são os povos».
fontes:
-http://resistir.info/eua/morte_friedman.html
-http://resistir.info/mur/novo_chile_set03.html
-http://www.avante.pt/noticia.asp?id=26085&area=19&edicao=1816
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1 comentário:
Militantes do PS Seixal agridem e ofendem humoristas "Homens da Luta" na visita "relâmpago" de Sócrates ao Seixal. Conheçam os detalhes no blogue O Flamingo.
Abraço
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