«Veio enfim um tempo em que tudo o que os homens tinham olhado como inalienável se tornou objecto de troca, de tráfico, e podia alienar-se. É o tempo em que as próprias coisas que até então eram comunicadas, mas nunca trocadas; dadas, mas nunca vendidas; adquiridas, mas nunca compradas – virtude, amor, opinião, ciência, consciência, etc. – em que tudo enfim passou para o comércio. É o tempo da corrupção geral, da venalidade universal»
- Karl Marx
Compromisso Revolucionário
Este blogue luta pelo socialismo em direcção ao comunismo!
No mesmo dia das eleições legislativas portuguesas, também se decidiam os futuros quatro anos na Alemanha.
Após uma grande coligação entre os Democratas Cristãos (CDU-CSU) de Angela Merkel e os Sociais-Democratas(SPD) de Steinmeier nos últimos quatro anos, o povo alemão foi a votos de novo julgar a governação do último mandato.
Quem acompanhou os testemunhos de cidadãos alemães aos jornais e às televisões notou numa real preocupação à volta dos assuntos laborais, na continuação dos benefícios estatais em tempos de crise e na preocupação com a continuação da segurança social para as futuras gerações.
No jornal Público, vinha até um artigo sobre a geração Praktikum, ou seja, uma camada demográfica composta por jovens, maioritariamente licenciados que pulam de estágio em estágio, sempre não renumerado e quase sempre dependente de subsídios do Estado, no caso da entrevistada ao Público, no valor de 350 euros.
A precarização de uma geração inteira na Alemanha tem semelhanças com a geração "quinhentos euros" em Portugal, os "mileuristas" de Espanha e a juventude que protestou na Grécia nos inícios de 2009.
O resultado das políticas de precariedade laboral é a hipoteca em massa de vidas que apesar de qualificadas, acabam por experienciar um novo tipo de pobreza, subsistindo com a ajuda dos pais, por vezes vivendo na sua casa, ou do Estado.
Desse modo, o sufrágio de 27 de Setembro na Alemanha trouxe uma coligação de direita, entre os democratas cristãos (CDU-CSU) de Merkel e os liberais (FDP) de Westerwelle, ao mesmo tempo que o partido da Social-Democracia (SPD) teve uma derrota histórica, pagando deste modo a governação conjunta com a CDU-CSU nos últimos quatro anos.
As duas forças de esquerda na Alemanha, os Verdes e o Die Linke também subiram, valendo hoje mais de 20% e sendo uma oposição credível à coligação de direita, composta pelos democratas-cristãos e os liberais, que a cumprir as medidas políticas deverão atacar sem quartel os direitos dos trabalhadores, precarizando-os ainda mais e seguir uma linha de pauperização do Estado Social, sustento de muitos alemães.
A luta de classes na Alemanha poderá entrar em pleno estado de ebulição nos próximos anos e a Burguesia deparar-se com a raiva e indignação da classe trabalhadora deste país.
Findas as eleições legislativas o balanço a tomar não difere muito do que já foi dito. A governação desastrosa e sem-rumo de Sócrates valeu-lhe a fuga para o eleitorado à sua esquerda e para o CDS, o PSD perdeu oportunidade de se reforçar como segunda força política, tendo um resultado muito parecido ao de Santana Lopes em 2005.
Relativamente às três restantes forças políticas, o discurso demagógico e fulanizante do CDS atraíram eleitorado descontente com o Centralão e permitiu ao PP tornar-se o terceiro partido mais votado e levar a ascenção de Paulo Portas a figura-maior da Direita portuguesa, já que o PSD anda há demasiado tempo perdido em quezílias internas entre os seus "barões".
O Bloco de Esquerda, com o seu discurso social-democrata de fachada socialista, agregando uma imagem new-wave que atrai os mais jovens, conseguiu consolidar-se como força de esquerda. Congregando em si várias correntes ideológicas, à medida que se avoluma a sua representação, a social-democraciae o discurso de conciliação de classes está cada vez mais presente e a fachada socialista é uma camada todos os dias mais ténue, até que se torne em mais um companheiro de caminho de PS/PSD/CDS.
A CDU teve uma vitória curta em termos de resultado eleitoral, porém ninguém pode negar os milhares de votos a mais comparados com o último sufrágio legislativo, a eleição de mais um deputado, além das enormes demonstrações de força popular nos comícios e arruadas feitos por todo o país, mostrando que a CDU é uma força política presente na vida quotidiana do povo e dos trabalhadores portugueses.
Ao contrário dos outros partidos e forças políticas, para a CDU e as forças que a compõem, as eleições não são senão um estágio, mais um passo, na luta contra a classe dominante ena conquista da vitória da classe trabalhadora.
Dure um ano ou um século, enquanto existir Capitalismo, este sistema e as forças que conciliam com ele podem ter a certeza que mais cedo ou mais tarde, os povos não vão deixar de se ouvir e um dia os trabalhadores irão impôr a sua ordem, não esquecendo quem sempre os apoiou e quem apenas os usou por motivos interesseiros. Só a luta forjará o caminho em direcção a um amanhã sem opressão! Vamos a isso, camaradas!
domingo, 27 de setembro de 2009
E este habitante transformado
que se construiu no combate, este organismo valoroso, esta implacável tentativa, este metal inalterável esta unidade das dores, esta fortaleza do homem este caminho até o amanhã, esta cordilheira infinita, esta germinal primavera, este armamento dos pobres, saiu daqueles sofrimentos, do mais fundo da pátria, do mais duro e golpeado, do mais alto e mais eterno e chamou-se Partido, Partido Comunista.
"O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
Um Estado, mais do que ter tamanho grande ou pequeno, tem uma natureza, tem um principal actor para o qual direcciona as suas políticas.
Todos os Estados que afirmam defender e promover o Capitalismo, estão a promover uma classe económica, a Burguesia e é o Burguês o principal actor da sua forma de fazer política, mesmo que diga o contrário.
Um Estado Capitalista é então um Estado Burguês, o que aliás, é um facto facilmente verificável nas medidas levadas a cabo nas últimas três décadas em Portugal, a Saúde está cada vez a ser mais concessionada aos grupos económicos e serviços de urgência, hospitais, maternidades e centros de saúde estão a ser encerradas para deixarem os utentes à mercê das clínicas privadas, que os tratam gripes e maleitas banais por um balúrdio e que enviam os casos mais graves para o SNS.
Na educação passa-se o mesmo, as creches que existem são poucas e privadas, sendo demasiado caras para quem tão rendimentos modestos colocar lá os seus filhos, as escolas estão a ser entregues à empresa Parque Escolar e o Ensino Superior já se tornou um grau educativo a que os filhos da classe trabalhadora dificilmente conseguem aceder, com as propinas sempre em crescendo e a entrega da gestão das Universidades e Politécnicos aos privados com a publicação de leis como Bolonha, o RJIES e a passagem a Fundação de Direito Privado.
A política de privatizações do património do Estado enriqueceu os bolsos de empresários como Américo Amorim e empobreceu as receitas estatais, além do deboche especulativo em que se tornou a nossa economia, na qual os principais investimentos em Inovação & Desenvolvimento se encontram na Banca.
No ambiente, temos a colocação do nosso património ambiental cada vez mais formatado à lógica do Mercado Livre, com a crescente entrega de áreas florestais a privados e a permissão de atentados contra o meio-ambiente em nome do santificado lucro.
E, claro, temos o inenarrável Código de Trabalho que aprofunda a rapina do burguês ao trabalhador, com a legalização dos recibos verdes, a criação habilidosa do Banco de Horas - que se torna um instrumento ao serviço do patronato para fazer o assalariado trabalhar mais sem receber horas extraordinárias, isto quando chega a receber de todo - e a repressão do activismo sindicalista, uma asfixia democrática que as forças denominadas democráticas fingem que não existe para melhor servir os interesses da sua classe, a classe burguesa.
Haverá muito mais para contar e mais pormenorizadamente, mas a situação actual do país, no plano político e económico é a prova de como os sucessivos governos PS/PSD/(CDS) tudo fazem para tornar Portugal um país acessível apenas aos bolsos e interesses da Burguesia e essa realidade é preciso combatê-la.
A luta pelos direitos dos trabalhadores assume muitas formas, desde a propagação de informação e formação da consciência de classe, à manifestação e protesto de massas, a democracia permite-nos defender os trabalhadores de mais outra forma. VOTANDO.
E só há uma força política que nestas eleições assume uma posição em defesa dos trabalhadores, na luta incansável pelos seus direitos e pela sua libertação do afã da ganância burguesa. Essa força política é a CDU.
Só a CDU garante que as políticas que se façam no futuro, não se comprometam com o Capitalismo (PS/PSD/CDS) nem o tentem torná-lo aquilo que ele não é: Humano(BE).
A CDU não cede aos interesses particulares. Não trai a Classe que defende.
Votar CDU é votar na defesa dos interesses e direitos da classe trabalhadora!
E puff, eis que vindo do arquivo de assuntos que permanecem num limbo mediático, salta o "caso" das escutas, que envolve uma possível espionagem política do Primeiro-Ministro José Sócrates ao Presidente da República Cavaco Silva.
Por entre as tramas que bruxulam entre o DN e o Público e a possibilidade de ter sido o próprio assessor de Cavaco Silva a fomentar o caso, verifica-se que a "polémica" já fez o seu trabalho: fez desaparecer da campanha eleitoral todo o cenário político que não incluísse o PS e o PSD.
Com medo de que o Centralão fosse completamente pulverizado nestas eleições, ao ponto de nem sequer conseguir formar coligação com o CDS, a Burguesia já tomou providências de modo a que a bipolarização da escolha eleitoral se resuma a estas duas forças políticas, indistinguíveis, mas deixando sempre espaço à imaginação para que se adivinhe se algumas delas consegue ainda descer mais baixo.
«Há uma guerra de classe, com certeza, mas é a minha classe, a classe rica, que está a fazer a guerra, e estamos vencendo.» -Warren Buffet, New York Times, 2006
Faz hoje 36 anos que um país foi mergulhado em 17 anos de opressão fascista.
O Chile conheceu um período de políticas progressistas fundamentadas no socialismo que visavam a nacionalização dos principais sectores económicos - o cobre, que representa 40% das exportações chilenas e 37% das reservas mundiais do metal; procedeu-se também a 90% da nacionalização da Banca- e pôr fim à dependência estrangeira da economia, com relevo para os EUA.
Através do lema «A democracia vive-se, não se delega» implementou políticas a nível institucional que visavam a democratização da sociedade, a nível social mas também no processo de decisão político.
As políticas progressistas da Unidade Popular, encabeçada por Allende, trouxeram a «segurança social e assistência médica no campo e nos bairros pobres urbanos; leite grátis para todas as crianças até aos 15 anos e para as mulheres grávidas; publicação de livros a preços populares; férias para os trabalhadores e incentivo à sua educação; legaliza-se a Central Sindical.»
Os resultados não se fizeram esperar e as condições de vida do povo chileno melhoraram à medida que as políticas são implementadas, «o progresso económico e social é esmagador. A produção industrial aumenta 11 por cento; o PIB cresce 7 por cento; o desemprego caí de 8,3 para 4,8 por cento; o número de casas construídas aumenta 20 vezes; os salários reais crescem 66 por cento e os assalariados passam a deter 59 por cento do Rendimento Nacional».
Allende queria instituir uma via latino-americana para o socialismo, instaurando-o dentro do próprio sistema democrático.
Óbvio que isto incomodou a burguesia chilena e transnacional e cientes das enormes transformações a favor do povo trabalhador, unem-se de modo a fazer a «economia chilena uivar de dor», com encerramentos em massa das unidades produtivas e através de uma campanha difamatória da revolução que toma alguma «pequena burguesia» e parte dos media. Contudo, e apesar da economia ter sofrido «vários revezes», a Unidade Popular volta a obter vitória nas eleições de Março de 1973 com uma votação de 44%.
Mas a Burguesia não se dá por derrotada e com o apoio financeiro dos EUA investindo «7 milhões de dólares nas forças reaccionárias e na desestabilização económica e política do país» -contando-se até um encontro com o presidente da Pepsi na altura, Donald Kendall, de modo a coordenar a transição para a ditadura - consegue derrubar a força progressista no poder e instaurar um fascismo que duraria 17 anos, tornando-se o primeiro laboratório do neoliberalismo, com a execução de Pinochet e a mentoria de Milton Friedman, economista que sacralizou o mercado livre e recebeu um prémio nobel da economia em 1976.
Com a subida de Pinochet ao poder e sob a batuta do ideal neoliberal de Friedman «as nacionalizações foram revertidas, os activos públicos vendidos, os recursos naturais abertos à exploração desenfreada, e a segurança social foi privatizada. As firmas estrangeiras foram cortejadas, gratificadas e garantidas quanto ao direito de repatriarem lucros.»
Se houve objectivo que Milton Friedman, a quem já chamaram "campeão da liberdade", atingiu e que ninguém lhe pode retirar é a estabilização da inflação...através de desemprego maciço e de Estado Social inexistente.
De modo a garantir todo este paraíso de liberdade, nada mais democrático que a supressão de qualquer oposição, aprisionando todos os insurrectos que se "atreviam" a enfrentar a "liberdade" de Friedman, que se inspirou noutros dois campeões do Mercado Livre, Hayek e Mises.
A instauração da ditadura no Chile é também um exemplo perfeito de um estilo político particular e que Naomi Klein descreveu em livro, a Terapia de Choque, ou seja, o aproveitamento de tempos conturbados para implementar políticas pró-Mercado Livre.
O 11 de Setembro também é a data do ataque às Torres Gémeas, data que politicamente marca o início do século XXI e do seu novo inimigo, o Terrorismo, data em que um suposto inimigo invisível mas presente em todo o lado, sem cara mas que se pode mostrar a qualquer altura em qualquer lado, "atemoriza" a vida das gentes comuns.
Desde essa data, duas guerras foram iniciadas, no Afeganistão e no Iraque, sob o pretexto de serem nações que apoiam o terrorismo, as liberdades civis foram severamente atacadas com a crescente construção de um sistema de vigilância electrónico, cibernético e na arquivação de dados pessoais. Tudo em nome da protecção da Civilização Ocidental e da sua indefectível "Liberdade".
Quem reparar no Iraque, país agora devastado com um povo retirado da sua própria soberania, pode encontrar semelhanças entre o que Pinochet e Friedman fizeram e a linha ideológica que o proconsul americano no Iraque, Paul Bremer, levou a cabo e realizou definindo «uma carta de direitos ao capital estrangeiro, incluindo o direito de comprar empresas públicas do Iraque; possuir negócios iraquianos; repatriar lucros; possuir bancos iraquianos; estar livre de barreiras ao comércio e ao investimento e pagar pouco imposto. Para assegurar o capital estrangeiro de que também teria o direito ao trabalho barato, Bremer baniu greves em sectores chave e restringiu severamente a sindicalização».
Entre 1973 e 2003 a diferença reside apenas no país e no pretexto, ontem o Chile e o Comunismo, hoje o Iraque e Afeganistão e o Terrorismo. Porque as manipulações políticas, o deprezo pelos povos e o afã de ter mais uma nação, mão-de-obra barata prestes a ser explorada e uma fonte de recursos naturais à disposição continua a ser a mesma e nunca mudará até que os trabalhadores se unam e refutem por completo aqueles que os subjugam.
Um dia, a História não deixará de julgar os perpretores de 1973 e 2001, e nas palavras de Allende, «quem faz a História são os povos».
Como já aqui havia dito, dediquei parte do Verão a ler o livro «O Socialismo Traído». Obra que merece uma revisão por nos dar uma visão do colapso da URSS diferente dos lugares-comuns que proliferam no discurso dos "politólogos", "historiadores" e "jornalistas" dos media de "referência".
Os autores do livro Roger Keeran e Thomas Kenny apresentam não só uma visão do que foi o fim da URSS, mas uma instrospecção da construção do socialismo soviético e as suas contradições. Contradições que foram fatais para um desfecho (ainda) trágico que afectou e reduziu as condições de vida dos habitantes das antigas repúblicas soviéticas.
A hipótese apresentada é que a URSS caiu devido às acções de uma clique política e intelectual, instaurada nos cargos de topo do PCUS e nascida de uma segunda economia ilegal, de feições capitalistas, que conseguiram pôr em prática os seus ideais burgueses quando tiveram um secretário-geral do partido aberto a reformismos que muitas vezes roçavam o anti-marxismo e até a completa rejeição do comunismo.
Esta linha reformista e aberta a soluções de mercado já tinha nascido aquando a formulação do NEP, já na altura de Lenine, para reerguer a União Soviética após a devastação da 1ª Guerra Mundial e o eclodir da Guerra Civil contra a resistência aristocrática - Exército Branco.
Havia começado com Bukharine, que fundamentou intelectualmente uma ala social-democrata no PCUS, promovendo ideias burguesas de democracia e de abertura a mercados de iniciativa privada. Krutchov, que veio a tornar-se secretário-geral do partido, iniciou um discurso que veio a tornar-se tendência entre os defensores do mercado. Renegou a herança de Stalin, inclusive a económica que permitiu a reconstrução e edificação de uma economia socialista sólida apesar da invasão nazifascista do território soviético, para dar largas à imposição de medidas que causaram retrocessos na construção do socialismo, tal como a descentralização política - que permitiu o aparecimento de interesses locais, em detrimento dos nacionais - e investimentos errados na agricultura - como a transformação das Terras Virgens em terrenos agrícolas - que mais tarde vieram a dar más colheitas e contribuiram para algumas das crises de escassez alimentar que assolaram a nação soviética.
Mais tarde a de-estalinização veio a ser usada de novo, desta vez por Gorbatchov, que aproveitou o ímpeto da democratização do regime soviético, iniciado por Andropov - anterior secretário-geral do PCUS - para decretar a partir de cima a desmantelação a nível político e económico o sistema socialista da URSS.
De acordo com o livro, Gorbatchov queria instaurar na URSS uma social-democracia à moda europeia, com uma economia de mercado e eleições de cariz burguês. Para atingir esse objectivo utilizou a Perestroika (Reforma) e a Glasnost (Abertura) para destruir o PCUS e aliená-lo da planificação económica da União Soviética, o que teve resultados desastrosos, aumentando a escassez de produtos e alimentos.
A destruição e afastamento do PCUS foi o principal papel de Gorbatchov no processo que veio a desencadear o fim da URSS, contudo, outros dois membros destacaram-se na sua vontade de destruição do socialismo e de rapina do povo soviético.
Iakovlev, braço direito de Gorbatchov, lidou este a implementar políticas que renegaram os ideais marxistas de luta de classes e de construção do socialismo, sempre sob a capa de inevitabilidade que o desastre iminente caíria sob a URSS caso nada se fizesse e Iakovlev, encarregado dos media soviéticos, pegava nos conceitos reformistas de Gorbatchov e desenvolvia-os com ideias de conteúdo pró-capitalista.
A terceira figura grada na queda da URSS foi Boris Ieltsin, personalidade política muito aclamada pela radio Europa Livre durante os anos da Guerra Fria. Ieltsin, é considerado pelos autores como um patriota soviético que porém rechaçava o socialismo e almejava uma restauração pró-capitalista em todo o território soviético, mas ao ver que não conseguia destruir o sistema socialista sem acicatar os vários nacionalismos das várias repúblicas, pegou no nacionalismo russo e deles fez-se campeão para melhor levar a cabo o seu objectivo.
N'O Socialismo Traído podemos encontrar um estudo da evolução desta linha reformista desde o seu nascimento na década de 20, com Bukharine e os pequenos proprietários e o campesinato, com Krutchov, primeiro secretário-geral disposto a implementar medidas pró-mercado, o florescimento da segunda economia na altura de Brejnev e o seu triunfo final com a clique Gorbatchov-Iakovlev-Ieltsin.
A leitura deste livro permite-nos também conhecer alguns fun facts sobre a defunta pátria socialista, entre os quais a existência de uma democracia de classe, fundada e patricada nas sovietes e nos sindicatos - democracia essa que Andropov, enquanto viveu o suficiente como secretário-geral tentou estimular para levar à necessária democratização da sociedade soviética - o ritmo da industrialização, alguns hábitos existentes na prática social daquele país, a relação dos cidadãos soviéticos com o socialismo e até a existência de um referendo não-vinculativo em 1991 em todo o território da URSS com excepção dos países bálticos, questionando aos vários povos das repúblicas se queriam a manutenção da União. Curiosamente, em nenhum país o «Não» a essa questão ganhou.