terça-feira, 16 de setembro de 2008

Ao tomar atenção à actual situação financeira deparei-me com o nome curioso que puseram à crise: «Crisis Ninja».

A razão por detrás da nomeação desta crise nada tem a ver com motivos bélicos ou referentes aos antigos guerreiros japoneses, mas numa conjugação de siglas que aqui exponho e logo a seguir traduzo: «No Income, No Job, No assets»(*). Apesar de literalmente a crise ter de se chamar NINJNA, a bem da originalidade adaptou-se a sigla para NINJA, que traduzida (e bem adaptada) em português daria algo como «Sem Rendimentos Fixos, Sem Emprego Fixo, Sem Propriedades». SRFSEFSP seria o nome da crise caso esta fosse baptizada por portugueses.

*- http://leopoldoabadia.blogspot.com/search/label/%2B%20ANEXO%201%20Crisis%20NINJA


Ora, a crise, como se tem vindo a saber, foi causada pela ganância dos bancos que emprestaram dinheiro com juros altos a clientes de grande risco para comprarem casa numa altura em que o preço de uma subia em muito pouco tempo (ver o site aí em cima para aprofundar os conhecimentos sobre a minha afirmação).

O típico comportamento das instituições bancárias, sem qualquer regulação por parte do Estado, combinado com a insaciabilidade de lucros, não olharam objectivamente a situação individual de cada cliente a pedir um empréstimo criou uma nova onda de sem-abrigos nos Estados Unidos da América.

A situação é tão grave que 21,4% destes indíviduos que pediram empréstimos subprime aos bancos acabarão por ir para a rua ; só em 2005, 1 casa em cada 5 adquiridas eram financiadas por este tipo de empréstimos. Adicione-se o facto dos subprimes estarem disponíveis ao cliente desde 1994, pode-se ter uma visão de quantas pessoas poderão vir a ficar sem tecto nos tempos futuros(*).

*- informação retirada de http://www.californiaprogressreport.com/2007/03/the_subprime_fo.html


Deixo-vos também um link do youtube onde poderão ver uma peça noticiosa da BBC sobre a nova vaga de sem-abrigos norte-americanos:

- http://www.youtube.com/watch?v=eBIJH6--vsM
(Lamento não poder colocar directamente o vídeo. Não é por falta de vontade, é por falta de engenho.)


Tendo em conta que um número considerável de pessoas estão em risco de ficar sem casa, seria de pensar que a nação americana e o próprio mundo se mobilizasse num debate sobre os nefastos efeitos de mais uma crise capitalista - que as tem uma vez por década, mas dizem os peritos liberais que o capitalismo funciona - que lançaria na miséria milhares ou mesmo milhões de pessoas, porém qual não é a minha surpresa quando vejo uma notícia da TVI sobre o assunto e ouço cidadãos americanos a defenderem a nacionalização de grandes multinacionais num país com 35,9 milhões de pessoas a viver numa pobreza abjecta(*) e em que, segundo Joe Biden, um terço da riqueza nacional é controlada pelo 1% da população mais rica do país.

Como é possível uma população querer salvar as multinacionais dos seus próprios erros enquanto cidadãos desse mesmo país não têm a direito a ajuda fiscal significativa, apoios do Estado - apenas 14% do PIB americano é dedicado à Segurança social(*2) -ou até acesso a serviços básicos que deveriam ser públicos(Saúde, Educação)?

Atingimos uma sociedade em que a máxima «Capitalismo é o socialismo dos ricos» atinge a sua mais alta expressão, com a «privatização dos lucros e socialização das perdas», resultando numa distribuição maior de recursos para ajudar as populações mais favorecidas e uma escassez de recursos, rendimentos e ajudas para quem realmente precisa delas(*3).

* - http://money.cnn.com/news/specials/poverty/

*2 - http://pt.wikipedia.org/wiki/Estado_do_bem-estar_social

*3- http://en.wikipedia.org/wiki/Socialism_for_the_rich_and_capitalism_for_the_poor

Esta crise e as soluções propostas para acabá-la com o uso do dinheiro dos contribuintes é mais uma prova de que a democracia perde terreno para o capitalismo, ao não conseguir que o esforço e contributo de cada cidadão seja usado para melhorar a vida desses mesmos cidadãos, mas para amparar a queda dos poderosos que exploram as massas, através da estagnação ou aumento de salários abaixo da inflação e por taxas de juro que tornam sofrível a vivência do dia a dia da classe média e impossível a sobrevivência das camadas mais desfavorecidas da sociedade. Tudo isto enquanto a elite corporativa e governativa escapa impune aos efeitos nocivos da sua própria ganância.

Termino dando voz ao economista britânico Keynes, um defensor do capitalismo controlado pelo regulamento governamental, para evitar os males próprios deste sistema económico.

"O capitalismo é a surpreendente crença que o mais mal intencionado dos homens fará a mais mal intencionada das coisas para o maior bem de toda a gente."

-John Maynard Keynes

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