sábado, 13 de setembro de 2008

Num mundo onde o capitalismo vai deitando abaixo as últimas liberdades e direitos dos cidadãos substituindo-as pelas liberdades dos agentes económicos, é necessário repensar o conceito de democracia e das liberdades que esta nos tem vindo a dar.

Os defensores do liberalismo económico observam qualquer remoção dos direitos de cidadania e dos trabalhadores como um triunfo da liberdade. Um triunfo da economia e do mercado livre. Contudo, como pode ser liberdade privar os cidadãos de um sistema de saúde público? Como pode ser liberdade privar os cidadãos de um sistema educativo público? Como pode ser liberdade não ajudar os mais desfavorecidos e desempregados de uma sociedade marcada pelo estigma da competividade do sistema capitalista? Como pode ser liberdade proibir e minimizar as hipóteses de luta sindical por parte dos trabalhadores?



«O que é a liberdade quando uma classe de homens pode deixar outra com fome? O que é igualdade quando o rico pode, pelo seu monopólio, exercer o direito de vida e morte sobre os seus semelhantes? Liberdade, Igualdade, Républica, tudo isto não passa de um fantasma»

- Jacques Roux.
citação removida de História do Anarquismo, pág.37


O grande equívoco dos defensores do mercado livre é confundir liberdade com indiferença, pois a existência de 1400 milhões de «pessoas a viver com menos de 1,25 dólares por dia» não é a face da liberdade e quando uma crise alimentar surge por acção especulativa dos agentes económicos do mercado livre, percebe-se que a verdadeira face do capitalismo e dos seus favorecidos é a indiferença insultuosa por milhares de milhões de pessoas que vivem numa situação de pobreza extrema, motivada somente pela procura do lucro de quem já tem a sua vivência diária mais do que assegurada.
-número tirado da edição do Avante de 04/09/08, que retirou esta informação das estatísticas do Banco Mundial.


É necessário repensar a democracia pois esta caminha perigosamente para a entrega total dos direitos e liberdades da cidadania aos agentes económicos, dando asas ao horizonte da privatização da vida e da redução do ser humano a recurso e instrumento que tanto pode ser precioso num segundo como dispensável no outro, dependendo dos humores da economia. Esse tipo de comportamento e autoritarismo sobre a dignidade e condição de um ser humano leva de imediato à relativização deste mesmo. E uma sociedade onde o Ser Humano não é a medida de todos os seus métodos, processos e relações internas é um local onde a democracia não existe, apenas o simulacro propagandístico dela.

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