Ultimamente, um movimento direitista ultra-conservador estado-unidense, de seu nome «tea party», tem estado sobre os holofotes nos EUA. Arranjaram o nome da sublevação popular ocorrida em Boston, a 16 de Dezembro de 1773, quando colonos deste país atiraram carregamentos de chá ao mar, protestando contra a «taxação (de impostos) sem representação», levada a cabo pelo governo britânico em todo o seu território imperial.
Os "teabaggers", membros do movimento actual, juntam os lugares-comum do capitalismo, baixos impostos, pouca regulação estatal e cortes nas ajudas sociais coloridos com um ethos de responsabilidade pessoal, com o fanatismo do mais retrógado McCarthismo que vigorou no século 20 nos EUA.
O seu discurso ultra-nacionalista corporiza o ideal da nação determinada pela História e a sua missão de expandir os ideais políticos, económico e religiosos pelo resto do mundo. Ainda que a "liberdade" seja um dos seus grandes slogans, esta é, obviamente, circundada à liberdade capitalista de tudo comprar e de tudo vender, a liberdade do mais forte perante a horde de fracos.
Até aqui, nada de novo, que não se possa encontrar no republicano médio e mesmo em larga parte do Partido Democrata. Em que difere então os "teabaggers" de hoje, do resto do cenário político? Uma conjugação de factores que legitima o seu discurso. Os "teabaggers" são abertamente racistas.
É visível o desdém com que se referem à população afro-americana, mandando-lhes bocas como «não compreenderem porque votam pessoas que nem sabem soletrar "votar"». A exigência de testes cívicos que garantam o direito a votar lembra os mesmos existentes na lei de segregação racial até esta ser revogada nos anos sessenta. A presidência de Obama, um afro-americano, e a sua tentativa de impor um sistema de saúde alargado toca os pontos mais sensíveis da ideologia estado-unidense. Ainda que a proposta nada tenha a ver com um sistema nacional de saúde, parte dos americanos não lhe hesita em apelidar de «socialista», «marxista» e que tais. Ao ter no poder um afro-americano, os saudosos do regime segregacionista, de repente, ganharam o charme da rebeldia "anti-sistema". A xenofobia também ganha asas no novo "tea party" ao pedirem maiores restrições à imigração.
O facto mais deslocado de todo o movimento e que contribui para a sua posição extremada no espectro político é o de partir dos grupos das "teorias da conspiração" da Nova Ordem Mundial. Segundo o qual, o Capital aproximaria o mundo de um governo global concentracionário e ditatorial através da introdução aos poucos de crises e guerras que garantiriam a legitimidade das suas medidas. Se tudo isto tem um fundo de verdade e é um objectivo à muito desejado pela Burguesia internacional, o que surpreende é que haja alguém que realmente acredita que os maiores capitalistas a nível mundial queiram, segundo os "teabaggers", implantar o socialismo.
A sua influência já se fez notar com a eleição do senador Scott Brown no estado de Massachussets e a histeria que trazem ao debate sobre a reforma de saúde de Obama. O canal Fox News alimenta-os e já criou com eles uma relação simbiótica, sendo que uma das suas colaboradoras, Sarah Palin, é a candidata ideal dos ultra-conservadores.
Esta particular hipótese é facilmente posta de parte, mas não deixa de corresponder às reais movimentações do Capitalismo global de assegurar poder total em todo o mundo, desde a queda do único bloco que o desafiava seriamente, a Europa Socialista.
Os quadrantes sociais do «Tea Party» são vários, mas o perfil do seu membro médio, o branco de classe média, parece corresponder à crescente proletarização dos trabalhadores estado-unidenses, que já não poupa nenhum sector da população.
Kurt Grossweiler, historiador alemão que estudou a ascensão do Nazismo na Alemanha, afirmou que em certos momentos históricos, o «fascismo» atraía a pequena-burguesia e certas partes do proletariado.
Os "teabaggers", ainda que apelando contra um suposto "fascismo global" e um retorno ao estado original pristino do país, encarnam os valores da burguesia nacional, da superioridade da nação e até o racismo e a xenofobia seriam convenientes ao capitalismo estado-unidense.
Caso voltasse a realidade jurídica da segregação racial e se acicatasse a perseguição aos imigrantes, o patronato deste país poderia contar com uma porção de mão-de-obra altamente precarizada e disposta a tudo para manter uma qualidade mínima de vida.
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