terça-feira, 27 de abril de 2010

Abril e o fim de uma era

Há umas semanas, um suplemento do jornal Público afirmava em título que a Revolução de Abril tinha sido a primeira vez em que os "mencheviques" (PS) venceram. Até aqui, nada de errado.

Talvez se tenham esquecido de falar no primeiro engano que os portugueses tiveram na nova democracia com a treta do «socialismo democrático» de Mário Soares, o mesmo que anos mais tarde viria a «meter o socialismo na gaveta» e entregar o país nas mãos do FMI. Ou talvez não refira o carácter de classe do 25 de Novembro e o enorme retrocesso político que ele trouxe para o povo português com o derrube do grande governo de Vasco Gonçalves. Mas de facto, os "mencheviques" venceram.

Tiveram a oportunidade histórica para isso. A social-democracia europeia caminhava triunfante pela Europa Ocidental, a propaganda anti-comunista dos tempos do fascismo ainda batia em parte significativa do povo português e a CIA não poupava esforços para que Carlucci fosse bem sucedido na manipulação da revolução.

Passados 36 anos, o "menchevismo" lusitano deu-nos 20% de pobres, trabalho precário generalizado, uma burguesia estatal que vive dos contribuintes e uma burguesia empresarial que em cada palavra e comportamento, mostra ter saudades dos velhos tempos. Hesitou-se no apoio aos trabalhadores quando havia oportunidade para lhes dar o domínio e o resultado hoje é a sua submissão total aos desmandos do Capitalismo.

Numa altura em que o país vê a classificação da dívida baixar pela acção das agências de rating, Portugal encontra-se no lote de nações que estão a originar fortunas através da especulação bolsista. Estamos numa fase da história, em que o Capitalismo não se compadece com Estados-Providência, isso era nos tempos do 'medo vermelho', hoje, o Capital faz o que quer e o que lhe apetece.

O Capital, que já não vê nenhum muro em frente, traga tudo à sua frente e Portugal está na fila, logo a seguir à Grécia.

Mas é nestas alturas que importa relembrar Abril. Abril foi Liberdade, sim. Abril foi democracia, sim. Mas Abril também foi Utopia. Abril quis libertar e dignificar os trabalhadores portugueses, mas também significou o sonho de algo mais. De uma Independência mais profunda e de uma Democracia verdadeiramente popular. Abril foi forjado pelos trabalhadores no âmbito de rejeição do fascismo, mas também de escolha do Socialismo como caminho a seguir para a realização dos grandes objectivos colectivos que uma sociedade decente deve atingir.

Perante o Capital, respondamos com Abril. Perante a especulação. respondamos com Abril. Perante a Burguesia, respondamos com Abril.

3 comentários:

filipe disse...

Boa reflexão sobre Abril.
Entretanto, como sabemos, o caminho é o da luta. E o capital, em resultado da luta, não faz tudo o que quer. As discursatas dos políticos/lacaios na AR revelaram que estão inseguros, não obstante os criminosos planos que têm, contra os trabalhadores e o povo.
Acordemos mais consciências, unamos mais vontades, para lhes barrarmos o caminho.
Abraço.

lp16 disse...

Perante isto, resta-nos ir para as Ruas.
Comecemos já no 1º de Maio, em cada Cidade, Vila, ou Aldeia!

ViVA O 1º DE MAiO!
ViVA A UNiDADE DO TRABALHO CONTRA O CAPiTAL!

Fernando Samuel disse...

Abril é a resposta.

Um abraço.