quinta-feira, 14 de maio de 2009

"As raças não nos separam. Separa-nos a classe social. O imigrante é teu amigo. O teu inimigo é o capital."

"Querem dividir-nos e que nos odiemos para manterem a exploração. Lutemos irmãos de todas as raças. Lutemos contra a agressão."
-Sin Dios, retirado daqui.


Quando Berlusconi afirmou que uma Itália multi-étnica era uma ideia de esquerda, Dario Franceschini, deputado e líder do centro-esquerda italiano, rechaçou essas afirmações apontando que este é o «século das sociedades multi-étnicas» e que não seria a esquerda ou a direita a intrometer-se nessa transformação histórica do mundo pelos povos e classe trabalhadora mundial.

Apesar das minhas reservas relativamente ao centro-esquerda, demasiadas vezes muito mal mascarada de social democracia, a resposta de Franceschini a Berlusconi acerta no ponto, não só pela sua simplicidade, mas também pela análise política que se pode apreender daí: Um mundo globalizado e de fronteiras permeáveis resulta numa maior mobilidade humana entre países e continentes. Outra análise que se poderá fazer é que a multi-etnicidade não faz parte do discurso político. Não se pode abordar a gestão do que é público assumindo que as pessoas não se vão dar ou recorrer aos mesmos lugares de inserção da sociedade - emprego, habitação, saúde, ensino - devido à sua etnia. Porém, é possível criar divisão com base na etnia. E muito de ela tem servido ao Capital.

A promoção das questões raciais e étnicas resulta na identificação do indivíduo com um grupo com o qual partilha as mesmas características físicas, essa identificação, muito promovida pelos media, vai levar à quebra de consciência de classe, ou seja, os trabalhadores perdem a sua unidade identitária e de acção, que podem reverter em luta reivindicativa, para embarcar na ideia que certo indivíduo, por ser da mesma cor que ele, partilha as mesmas condições sociais que ele.

A divisão da classe trabalhadora sempre foi um objectivo da classe capitalista, pois na luta de classes com que a sociedade se depara desde o início da civilização, só a desunião dos trabalhadores permitiu à elite dominante garantir a sua posição de controlo na sociedade.

Religião, raça ou origem de um indivíduo são alguns dos instrumentos utilizados pelo Capital para dividir os trabalhadores e pô-los uns contra os outros.

Na Europa, esse espectro de uma época negra está a voltar, o esforço que as elites económicas e os políticos do sistema empreenderam para destruirem a capacidade de acção unida dos trabalhadores resultaram em movimentos sociais xenófobos e racistas e ao erguer de forças políticas com ideais iguais.

Só a restauração da solidariedade de classe e do ideal marxista de que os trabalhadores não têm pátria pode parar o ressurgir de fantasmas antigos.

1 comentário:

Op! disse...

Isto numa época em que se suspira de saudades de Salazar, poderá ser especialmente grave em Portugal.

Não tenciono com isto sugerir que estamos de novo a voltar ao colonialismo! Mas temos que estar especialmente atentos aos movimentos racistas e xenófobos, que até aqui têm sido considerados politicamente incorrectos pelo público na generalidade - tendência que está a diminuir.