segunda-feira, 25 de maio de 2009


Para um país que vive em democracia, o estado da arte em Portugal é no mínimo paradoxal.

35 anos após a revolução que nos trouxe a democracia é facto-comum e bem propagado que os partidos são um problema do sistema e não uma solução para o melhorar. A actividade política é vista pela população como uma parte amaldiçoada da vida cívica, quase como a actividade de actor no antigo Império Romano. Aliás não há dia em que não apareçam jornais a falar do fedor a corrupção que exala do actual momento na democracia.

Curiosamente, embora a actividade política seja mal vista, a crítica em si da política e dos problemas que a caracterizam não é rechaçada, é até tema comum nas "conversas de café".

Pode-se supor que a discussão política dos problemas é corrente entre os cidadãos, porém, tanto a discussão e a actividade política que proponha soluções a esses problemas já é posta de lado.

Porém, as iniciativas religiosas, grande parte delas feitas pela Igreja Católica, estão em franca expansão e não deve haver capital de concelho municipal que não tenha a sua romaria, congregadora da comunidade e principal acontecimento público do município, juntamente com a festa local anual. Grande símbolo desta renovada espiritualidade portuguesa é a transformação em Fátima no centro religioso português com toda a pompa mediática. Se tivermos em conta que a Comunicação Social promoveu os 50 anos de existência do Cristo-Rei em Lisboa como um acontecimento de importância nacional, talvez estejamos mais perto de adivinhar a origem desta expressividade da alma portuguesa.

Quem reparar na sociedade portuguesa, vê que ela está dominada pelos brandos costumes, a democracia deu aos cidadãos a liberdade de discussão e acção, mas 48 anos de fascismo marcaram o pensamento político colectivo, e embora a política ande nas bocas do povo, ele renega pegar-lhe nas mãos.

E quando reparamos que os símbolos do fascismo e os governos deste período são celebrados com uma aura de incorruptabilidade e de dever público inviolável, percebe-se a razão porque os cidadãos estão desencantados com o actual sistema.

Num país em que o nome da democracia anda pelo lodo ao mesmo tempo que o do fascismo é exaltado, só pode resultar numa existência política mortiça, elitista e com escassos rasgos de verdadeira democracia, verdadeira participação do povo.

E quando a democracia é posta num patamar secundário, é questionável a sua existência futura.

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