sexta-feira, 29 de maio de 2009


Aqui deixo um texto retirado d'O lado obscuro da economia, livro escrito pela economista Loretta Napoleoni. Apesar de alguns postulados da obra estarem errados (tais como a perspectiva positiva da queda da URSS, apesar da própria autora apontar a miséria que causou a entrada do capitalismo pelo desmoronado bloco soviético), os apontamentos que ela faz sobre democracia (capitalista) e escravatura são um conjunto de bons argumentos para quebrar o mito da inviolabilidada da democracia burguesa e mais uma realidade desmascarada do Capitalismo.


«À medida que a democracia se propagava, o mesmo acontecia com a escravatura. No fim da década, estimava-se que 27 milhões de pessoas tivessem sido escravizadas em inúmeros países, incluindo em alguns da Europa ocidental. Já em 1990, escravas sexuais eslavas do antigo Bloco Soviético começaram a inundar os mercados ocidentais.

Estas mulheres eram bonitas, baratas e, mais importante que isso, estavam desesperadas. No entanto, o novo tráfico sexual era apenas a ponta do icebergue. A globalização permitiu a exploração do trabalho escravo a um nível industrial, atingindo uma intensidade nunca antes vista, nem mesmo durante o comércio transantlântico de escravos. Das plantações de cacau da África Oriental aos pomares da Califórnia, da florescente indústria da pesca ilegal até às fábricas de produção de produtos falsificados, conforme pude constatar uma e outra vez durante a minha investigação, os escravos tornaram-se uma parte integrante do capitalismo global.

Surpreendentemente, nos tempos modernos, a democracia e a escravatura coexistem naquilo que os economistas consideram uma correlação directa. Por outras palavras, os dois fenómenos mostram tendências idênticas e um condiciona o outro. A década de 1990 confirmou uma tendência surrealista que já se tinha manifestado na década de 1950, durante o processo de descolonização. À medida que as antigas colónias conquistavam a independência das potências estrangeiras e alcançavam a liberdade, o número de escravos disparava e o seu custo descia a pique. Actualmente, o preço médio de um escravo é inferior a um décimo do seu valor durante o Império Romano, uma época da história em que a democracia pode muito bem ter atingido o seu nível mais baixo. Para os romanos, os escravos representavam mercadorias escassas e valiosas que implicavam preços elevados; hoje em dia, existem em grande número e são uma mercadoria descartável, sendo apenas mais um dos «custos de fazer negócios internacionais».

Nas nossas mentes, a democracia e a escravidão raramente estão ligadas porque continuamos a acreditar no pressuposto errado de que o advento da primeira é, de algum modo, uma garantia contra o ressurgimento da última. (...) Hoje é comum acreditar-se que a escravatura é o produto de exploração de países pobres por parte de potências estrangeiras; na realidade, a verdade é exactamente o oposto: a maior parte das vítimas é escravizada e traficada pelos seus próprios compatriotas.»

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