quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Explicação de uma adulação


Existe um comportamento pavloviano espalhado e cultivado desde há muito em Portugal que passa pela aceitação apatetada de todas as "recomendações" e slogans vindos do estrangeiro. Seja o FMI, a OCDE, a OMC, a UE ou qualquer chefe de estado estrangeiro, todos estes têm mais legitimidade de ditar o futuro do país do que qualquer nacional.

É uma cultura que encontra prazer no protagonismo a todo o custo e no servilismo a quem nos refere "lá fora". O exemplo mais doentio deste comportamento encontro-o quando caiu a ponte em Entre-os-Rios e os telejornais portugueses apressaram-se transmitir a referência à tragédia pela CNN, BBC, etc.

Já Eça de Queiroz apontou nos Maias este lusitano feitio de adular e imitar tudo o que é moda no estrangeiro e esvaziar-mo-nos de espírito crítico para dar espaço a essa admiração. Nos media, mais uma vez, recordo-me quando Guterres vinha falar da situação complicada das contas públicas e da economia num tom pachorrento e pleno de lamúrias e logo enfartavam-nos com as declarações das instituições europeias e internacionais, com voz austera e firme, uma desautorização das figuras de Estado nacionais pelo estrangeiro, que conhecia as regras e não hesitava em aplicá-las. Os portugueses, caíram nesta armadilha psicológica como uma miúda do secundário.

Poucos são os que mandam os senhores da UE e da Economist para onde merecem. E até que isso aconteça, as diversas cliques estrangeiras, evangelistas do Mercado Livre, exercerão uma pressão psicológica sobre a opinião pública nacional, causando a secundarização de todas as vozes dissonantes às recomendações de fora, que mais são linhas orientadoras prestes a realizarem-se como decretos-lei.

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