segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Apontamentos sobre o Haiti


O terramoto que se abateu sobre o Haiti tornou trágica a situação de um país miserável, o mais pobre do hemisfério norte.

O que se seguiu já faz parte do folclore dos cataclismos naturais, mediatização frenética, a adopção de linguagem apocalíptica, todo um desfile de doações e actos de caridade, desde as celebridades até ao comum cidadão.

Até agora o facto mais controverso tem sido o envio de 15 mil militares estado-unidenses para "garantir a tranquilidade" em Port-au-Prince. As fontes são dissonantes. Se há quem diga que desastre natural estalou a anarquia na capital haitiana e que os seus naturais estão à espera da vinda salvífica das forças armadas dos EUA, há também quem garanta que não há problemas de segurança e que a "ajuda" estado-unidense é em demasia.

No meu ver, compreendendo a necessidade do reforço da autoridade em tempos em que o Estado nacional do Haiti simplesmente deixou de desaparecer, não deixo de acreditar que este envio de militares está intimamente ligado com o pedido de George W. Bush para que os seus concidadãos não façam doação de bens essenciais, mas de "dinheiro", assegurando o ex-presidente que eles «cuidariam» dele.

Aquando do Tsunami no Sudeste Asiático, o governo do Sri Lanka aproveitou o estado de choque geral da população para implementar um «impopular» programa de privatizações, rejeitado em referendo pela população oito meses antes do tsunami, que incluia a entrega a privados da água e da electricidade. Assistiu-se de igual modo à privatização de praias na Tailândia.

Será que voltaremos a ver o mesmo modos operandi no Haiti?

Politicamente, o Haiti sempre foi um colonato dos EUA, "Papa Doc" Duvalier, um feroz ditador anti-comunista e o seu filho, dispuseram o país à burguesia americana e à oligarquia local. Das últimas vezes que os EUA meteram o bedelho no Haiti foi com Duvalier filho, um programa de reestruturação da economia, orientada para a indústria de exportação e transporte de excedentes agrícolas estado-unidenses para o Haiti, concentrou as populações nos grandes centros urbanos, onde passou a haver mais mão-de-obra do que emprego, e aniquilou a agricultura local. Escusado será dizer que esta reestruturação económica não resultou em nada e o Haiti continuou miserável.

O fim da ditadura levou à eleição de Jean-Bertrand Aristide, que quis formar uma economia baseada em parcerias público-privadas, que beneficiaram o povo haitiano, não deixando de lado os interesses privados. Até o reformista Aristide, Washington não conseguiu aguentar e depô-lo em 1991 e 2004.

Do regime saído do golpe de estado de 2004, seguiu-se a prisão de «milhares de organizadores comunitários, civis pobres e dissidentes políticos que os EUA/ONG» etiquetam como «gangsters». A proibição do partido maioritário no Haiti em participar nas eleições é outro "pormenor" da "democracia" pró-americana de René Preval.

René Preval, que não aceitou a ajuda militar da República Dominicana mas saltou de pulos com a estado-unidense, lidera um país que longe de ser pobre e sem recursos, tem reservas de ouro, irídio, cobre, urânio, diamantes, reservas de gás e até petróleo. Todos eles tomados por privados, de que se desconhecem os nomes.

Neste caso pode-se dizer que o ladrão não volta ao local do crime, mas repete os mesmos procedimentos. Vamos ver para que servem as "ajudas militares"...

1 comentário:

filipe disse...

É isso, vamos ver melhor, em breve.
Embora o que está à vista já seja demais!
Abraço.