domingo, 3 de janeiro de 2010
O «beautiful country»
A juventude portuguesa engrossa e compõe maioritariamente os «novos pobres», frequenta licenciaturas que têm garantia de desemprego ou sub-emprego, vê desfeita perante os seus olhos a oportunidades de terem condições de vida razoáveis e vê-se obrigada a ficar em casa dos pais ou a estar economicamente dependente deles até aos trinta anos, à conta dos salários de quinhentos euros e da precariedade crescentes no emprego. E isto quando há emprego.
Mas na televisão nacional, a juventude portuguesa despe-se de misérias e cobre-se de glamour. Despem-se das contas bancárias a zero e vestem-se de gente bem vestida e maquilhada nos Ídolos, apagando o teatro de miséria lá fora com a promessa do estrelato musical promovido na TV. Despem-se dos empregos nos call-centers da Vodafone e da TV Cabo, nas caixas dos supermercados e nas lojas do centro comercial para cantar, aplaudir e assistir ao nacionalismo pop dos programas de horário nobre da RTP, com a Bárbara Guimarães a cantar que «já foi um conquistador» enquanto apresenta a nova remessa de fadistas da nova geração. Despem-se da carestia de vida generalizada e falta de esperança que esta melhore para se vestirem da burguesia empresarial e beau-vivant da novelas da TVI, que habita em vivendas e é servida por empregadas, sempre burrinhas e ruralizadas.
A televisão, assumindo-se como instituição-mor do garante da sociedade democrática, apaga a agrura do país, feia e inconveniente e através do entretenimento substitui-a por uma imagem jovem, bonita e ilusória. E aí é que se encontra o seu calcanhar de Aquiles. Ilusória.
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