terça-feira, 12 de janeiro de 2010

As narrativas do paternalismo


O filme Avatar, cuja utilização da tecnologia 3D está prestes a catapultá-lo para a película mais rentável de sempre, tem provocado uma série de críticas, tanto positivas como negativas, nascidas de alguns pontos polémicos do enredo.

Desde salvador da indústria cinematográfica até «danças com lobos» sci-fi, o filme parece ter clicado no interruptor racial de alguns comentadores estado-unidenses, que nunca se cansam de falar deste instrumento muito grato do capitalismo, devido à sua capacidade de dividir trabalhadores pela cor da pele.

David Brooks, colunista do New York Times, apelida Avatar de «fantasia racial por excelência», por basear-se «na assumpção de que os povos não-brancos precisam de um Messias Branco para os guiar nas suas cruzadas».

Este paternalismo (o do colunista) assemelha-se ao de alguns intelectuais pequeno-burgueses que abrem a boca de espanto com o regresso do nomadismo ao Tajiquistão, antiga república soviética.

Pelas palavras de Timurbek, filologista russo que ficou por este país depois da queda da URSS, a "independência" significou o fim das «quintas estatais, canais de irrigação, redes de transportes e centrais de energia». O retrocesso civilizacional tornou o «nomadismo» uma «necessidade», enquanto que anteriormente era uma «opção».

Uma dessas pessoas é Aziz, um agricultor semi-nómada que nos conta que «Sob as Sovietes, tínhamos todo o tipo de de comida nas lojas, combustível barato, autocarros e estradas em bom estado». Não era permitido praticar «religião livremente, mas havia comida e trabalho».

O Tajiquistão, embora fosse a república mais pobre da URSS, com a queda da pátria socialista tornou-se uma das nações mais pobres do mundo, onde as antigas escolas e hospitais soviéticos foram abandonados por a electricidade não chegar a esta nação das estepes asiáticas, nem sequer no Inverno. O combustível, a escassez de comida e outros sinais de terceira-mundização extrema são o relato de um Tajiquistão "independente" e sob a batuta do Mercado Livre.

O tajique conclui que «toda a gente sente falta da União Soviética».

Em nota de conclusão, vejam o filme e analisem-no para lá dos irritantes paternalismos burgueses.

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