«A Crise do Islão» de Bernard Lewis é um livro que toma uma visão claramente pró-ocidental do Islão e do historial de problemas políticos do mundo árabe.
Na Europa existem muitas nações e a mesma religião (cristianismo), no Médio Oriente existe uma religião (Islão) e várias nações. Este é o raciocínio base que o autor nos oferece para percebermos os jogos geopolíticos da região.
Com a queda do Império Romano, o Médio Oriente tornou-se um espaço vazio de civilização até que no século VII Maomé iniciou a caminhada do Islão como farol ideológico da região. A Arábia Saudita foi o primeiro país declaradamente islâmico (conquistado e convertido pelo próprio Maomé) e desde então, a implementação do Islamismo pelo Médio Oriente levou à necessidade de criar um aparato político supra-nacional, com ligação directa aos termos do Islão e à partilha colectiva desta condição dos vários países. Até à queda do Império Turco-Otomano, havia um califa, um chefe supremo de todos os líderes islâmicos, personificado na soberania do imperador otomano.
A queda deste Império em 1918, com a sua derrota na 1ª Guerra Mundial, esvaziou de novo o Médio Oriente do aparato político criado e tornou o Islão uma religião/ideologia "descristalizada" de poder político, permanecendo nas mesquitas, madrassas e círculos intelectuais durante larga parte do século XX, onde repousou e se actualizou, mostrando hoje em diversas facções políticas, o wahabbismo que o caracteriza.
Mas até o Islão se tornar de novo uma força dominante, um novo factor ideológico redefiniu o Médio Oriente a nível político.
A divisão do antigo território Turco-Otomano em duas áreas administradas pela Inglaterra e França introduziu o Estado-nação, um conceito europeu, na discurso e prática política do mundo árabe. Numa perspectiva dialéctiva, foi esta intervenção europeia que originou os movimentos seculares de esquerda marxista que mais tarde iniciaram e lideraram os processos de descolonização no Médio Oriente.
Apesar do secularismo que o caracterizara, a imagem-mito do Califa, como líder da população islâmica permaneceu, desta vez com a consagração de Nasser, figura que quis edificar o socialismo pan-árabe no Egipto e na Síria. Também Kadhafi e até Saddam assumiram em certa altura o papel de figura providencial e salvífica do Médio Oriente.
Para compreender a complexidade da relação do movimento secular árabe com a sociedade islâmica onde se inserem, preste-se atenção à participação do Partido Comunista Libanês num festival de homenagem a Saddam Hussein, que entre muitos outros crimes, massacrou comunistas iraquianos.
Bernard Lewis afirma que o falhanço de implementação dos dois modelos políticos dominantes na Guerra Fria foi um dos factores fulcrais para o ressurgimento do islamismo, sem que tenha desenvolvido de forma satisfatória as intervenções estado-unidenses no Médio Oriente e realçando em demasia as da União Soviética, adjectivando-as de imediato num tom negativo.
Um dos aspectos positivos do livro é que se percebe facilmente onde está o facto e a opinião do autor e a forma como a sua tendência ideológica determina a importância dada a certas processos históricos.
O livro termina com uma "mensagem de esperança" do autor, que a invasão militar do Afeganistão e do Iraque possa ser um novo começo para a região, tendo por modelo a democracia liberal capitalista, dominante no Ocidente. Escaapa a Bernard Lewis que o presente de colonização económica dos recursos e mão-de-obra do Médio-Oriente impossibilita a «construção de nações», seja em que modelo for.
O livro falha também em explicar as raízes do crescimento do Islamismo e a sua posição na região como um movimento político de resistência ao Imperialismo, impedindo a construção por via externa de um Estado-nação, quando este próprio está em crise no Ocidente.
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
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