terça-feira, 12 de janeiro de 2010

revisão do livro: «A Origem das Crises Financeiras»


Li de jacto «A Origem das Crises Financeiras» do George Cooper, um analista financeiro e andarilho experiente nos jogos da especulação bolsista.

A análise de George Cooper à actual crise financeira e à economia em geral é interessante embora se baseie numa concepção burguesa da economia. Admito que fiquei com o olho neste livro ao ler a contra-capa, «as crises se vão repetir com cada vez mais frequência».

Desde as primeiras páginas até às finais o autor desmantela os fundamentos da «Hipótese do Mercado Eficiente", que afirma a tendência natural dos mercados para atingirem um «equilíbrio óptimo» através do mecanismo da oferta e da procura.

Aponta os exemplos como o petróleo, no qual é a oferta que estimula a procura e não o contrário. O mercado dos bens de luxo, onde os preços elevados são uma mais-valia do produto e não um desincentivo (coisas de ricaços). A "Hipótese do Mercado Eficiente" também prevê que os agentes envolvidos nas actividades financeiras desconheçam os dados relativos a uma futura mudança de preços dos activos, o que não acontece devido à investigação e registo dos comportamentos do activo ao longo dos tempos. Esta realidade comprova de igual modo a existência uma «memória do mercado», proposta pelo matemático Mandelbrot, que vai contra outro postulado da "Hipótese do Mercado Eficiente", a de que os agentes financeiros actuam perante cada situação tendo em conta apenas as condições relativas a essa situação.

O autor refere que a predominância do pensamento da «Hipótese do Mercado Eficiente» desde Reagan e mais acentuadamente nos anos 90 levou a uma expansão insustentável do crédito que só agora começámos a pagar a factura. A actual crise começou uma «contracção do crédito», «auto-sustentada» pela especulação bolsista e acção dos bancos.

George Cooper, como bom burguês que é, nem sequer menciona a perda do poder de compra dos trabalhadores e que o crescimento do crédito originou-se nesta crescente precarização (tal como a sua insustentabilidade).

Como "alternativa" à "Hipótese do Mercado Eficiente" Cooper dá-nos Keynes, com o qual fundamenta a necessidade de um Banco Central para fazer «gestão de procura» e Hymski, que propõe uma «Hipótese da Instabilidade Financeira», que supõe a tendência natural dos mercados financeiros para entrarem num colapso «auto-sustentado».

A política que Cooper estabelece para o Banco Central é de resfriar o recurso ao crédito quando este está em expansão e fazer o contrário em períodos de crise. A utilização de um princípio de engenharia de Maxwell sobre «reguladores» de maquinaria como metáfora para o comportamento dos bancos centrais é um pormenor interessante. Porém, a acumulação de riqueza numa elite económica não parece incomodar a lógica reformista do autor.

Ainda que Cooper defenda a tese de Keynes de que o investimento público é sempre uma boa maneira de estimular a economia, repara bem que o aumento do «stock de dívida» numa economia só resultará numa crise ainda mais aguda num futuro próximo. A reflexão do autor sobre o problema da dívida é acutilante e vai direito ao cerne do questão.

«À medida que cada tentativa de contracção de crédito é sucessivamente contrariada, através de estímulos engenhosos, a economia é arrastada para um estado de progressivo endividamento, o que apresente o risco de uma contracção futura ainda mais violenta.»

Ao livro de George Cooper faltou mesmo estudar o impacto da descida de poder de compra dos salários da classe trabalhadora, mas pode ser que a próxima crise o faça abrir os olhos um pouco mais.

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