domingo, 10 de janeiro de 2010
Relatos de uma «geração perdida»
Saiu hoje no Público uma reportagem sobre a vida precária da juventude portuguesa. Pela experiência de quatro jovens, ficamos a conhecer relatos de quem apostou na formação e entrou no mercado de trabalho apenas para encontrar sub-empregos onde são explorados e mal ganham para subsistir.
«"Sempre fui boa aluna e nunca chumbei", contou ao PÚBLICO, em jeito de justificação, antes de deixar cair que "por acto de desespero e porque não aguentava mais estar deprimida em casa" está a fazer formação para trabalhar num call center. Nunca imaginou. Dos bastidores dos espectáculos passou para a fidelização de clientes numa empresa de telecomunicações.» - Inês, licenciada em Teatro na Escola Superior de Teatro e Cinema.
«Ana não é o seu verdadeiro nome. É o nome de quem já está "escaldado" e que não pode dar a cara. Se o fizesse, acredita que perderia o emprego precário que lhe permite pensar apenas "mês a mês". E isso não pode acontecer outra vez. Há três anos foi mãe. Estava - uma vez mais - a trabalhar a recibos. Quando teve o bebé nunca mais voltou. A empresa não a readmitiu e ficou sem ordenado. E, com uma filha nos braços, levou tempo a encontrar um novo local compatível com as necessidades de uma jovem mãe.» - Ana, licenciada em Arquitectura na Lusíada e em Arquitectura de anteriores pela Faculdade de Arquitectura da Universidade Técnica de Lisboa.
«Vasco assegura que mesmo ter uma bolsa para investigar já é "difícil", pois estão a ser dadas a pessoas que estão a trabalhar como técnicas em laboratórios e que desempenham funções permanentes em nada relacionadas com experiências. Muitos dos seus colegas desistiram ou criaram empresas e até houve um que abriu um consultório de massagem chinesa. Mas Vasco continua a acreditar que "a formação nunca é demais", apesar de haver "autismo por parte das empresas". Para lutar contra esta situação, faz parte da direcção da Associação de Bolseiros de Investigação Científica, que pretende dar mais direitos a quem tem "todos os deveres e é muito qualificado".» - Vasco, licenciado em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, Mestre em contaminação de organismos marinhos com metais pesados e a tirar o Doutoramento em Toxicologia de Mercúrio.
«João Mota foi (temporariamente) salvo por uma grávida. Serão apenas uns meses a fazer paginação numa empresa enquanto a colega estiver de licença. Com 25 anos, o valor que recebe a recibos verdes não chega para conseguir sobreviver. "Desde que acabei o curso foi o melhor que me apareceu e vou tentar subir degrau a degrau até chegar ao patamar que mereço", conta enquanto caminha em passo apressado para o call center onde também trabalha à noite para conseguir pagar as contas todas.» - João, licenciado em em Design e Tecnologia das Artes Gráficas no Instituto Politécnico de Tomar.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário