quarta-feira, 26 de novembro de 2008


O nosso imaginário de mensageiro é de um agente neutral e firme na sua tarefa de levar a mensagem ao seu destinatário. Cumprida esta tarefa, o mensageiro perde a sua identidade e relevância social, tornando-se em mais um entre as massas, cuja importância para estas mesmas só surge quando é de novo chamado a performar o seu papel de entregar a mensagem. Sempre imparcial e rigoroso no zelo da sua profissão.

Este imaginário é a base mental para que a verdade seja deturpada e ocultada às massas, não chegando estas sequer a suspeitar que no completar da sua tarefa, o mensageiro pára a meio caminho, lê a mensagem, interpreta-la e muda-a de acordo com os seus interesses.

Esta é a realidade dos meios de comunicação social na actualidade. Já desde o século XIX, Karl Marx apresentou aquela que viria a ser conhecida como Crítica Marxista, explicando que através da Comunicação Social a ideologia do mercado se ia dando a conhecer e se legitimava no pensamento das populações.

Deste modo, o sistema capitalista colonizava as mentes de toda uma sociedade de modo a que cada indivíduo concordasse com os seus pressupostos aplicados na realidade, mesmo que estes prejudicassem esse mesmo indivíduo. Porque o capitalismo se assumia como o único sistema político, social, económico e até de pensamento, justificado nos agentes informativos cujas premissas profissionais lhes rotulavam de imparciais e rigorosos na busca de informação pura de interesses de um lado ou do outro da questão que a mensagem tratava.

O que foi aplicado por Marx no seu século é ainda mais imputável à nossa sociedade, intrinsecamente ligada a uma realidade mediática, vivificada e regulada pelos meios de Comunicação Social.

E numa altura de grandes apuros para o capitalismo à conta da actual crise financeira, a propaganda ao mercado livre e os seus conceitos-base, já nem se fazem de forma encapotada, mas de forma declarada. Tomando exemplos na imprensa nacional podemos ver que qualquer tentativa de pluralismo é reduzida a um espaço diminuto, como o artigo de opinião de António Vilarigues (delegado e intelectual do PCP) no Público e a participação de trinta minutos de Carlos Carvalhas (antigo dirigente do PCP) na SIC Notícias numa unica ocasião e a de Jerónimo de Sousa na TVI, num frente-a-frente muito mal conduzido por Constança Cunha e Sá.

E reparemos que todos estes dissidentes da corrente de pensamento geral são políticos profissionais, que inevitavelmente irão atrair uma aura de facciosidade à sua opinião, aura essa que não seria imputada a jornalistas, economistas, historiadores ou até politólogos cuja linha de raciocínio vá além da cartilha propagandística do mercado livre.

A suposta cobertura intensiva ao XVIII congresso do PCP é ficcional e exacerbada, pois os jornalistas com essa tarefa não deixam de tentar descredibilizar as ideias do partido e dos seus militantes, da sua motivação política de envolver os movimentos cívicos e dos trabalhadores na construção de uma democracia plena e verdadeiramente independente de qualquer interesse económico, onde o cidadão e o trabalhador são a última medida de todas as coisas.

sábado, 8 de novembro de 2008


As duas palavras mais recorrentes após a vitória de Obama são «mudança» e «desilusão».

A primeira porque foi o tema principal da sua campanha eleitoral e a segunda porque reconhecendo a humanidade do candidato eleito e da enormidade das várias crises que terá de enfrentar enquanto presidente, é apenas natural que Obama venha a desiludir uma parte considerável das pessoas cujas expectativas são demasiado altas para serem correspondidas.

Existe porém um tema cuja importância torna-se premente e de natureza ameaçadora.

No mesmo dia que Obama foi eleito presidente, Medvedev, presidente da Federação Russa, anunciou a instalação de um complexo de mísseis em Kaliningrado, um território russo situado entre a Lituânia e a Polónia. Esta medida surge como resposta ao escudo anti-missil dos Estados Unidos da América, este realizado com a conivência dos governos de alguns países do leste europeu pertencentes à UE, para prevenir ataques de mísseis iranianos.

Tanto as razões dos EUA para instalarem o escudo como as da Rússia para retaliarem são rebuscadas. Nem o escudo preveniria por completo um ataque iraniano nem a Rússia deixa de ter espaço livre para atacar os próprios EUA, mas a recente assunção da pose bélica russa ao atacar a Geórgia em Agosto deste ano e sair impune de sanções deu uma validade moral à Rússia de tomar o lugar de potência militar na Europa.

O continente europeu, que desde a Segunda Guerra Mundial não sofreu nenhuma guerra devastadora, vê-se agora perante um vizinho ressentido da falhada experiência soviética e moralmente validado para assumir o espectro de potência bélica da Europa, cujas nações perderam demasiado tempo a serem subservientes às vontades e medos retrógados da América.

O verdadeiro sentido da Mudança de Obama não existe para os europeus a descobrirem e seguirem, mas para os europeus a compreenderem a utilizarem os seus pontos fracos para retirar a hegemonia aos Estados Unidos da América, que tem sequestrado o mundo desde meados do século XX, pois em todo o discurso do presidente eleito dos EUA é possível ver a vontade da perpetuar o controlo americano e capitalista sobre o mundo, através do militarismo e do mercado livre.