As duas palavras mais recorrentes após a vitória de Obama são «mudança» e «desilusão».
A primeira porque foi o tema principal da sua campanha eleitoral e a segunda porque reconhecendo a humanidade do candidato eleito e da enormidade das várias crises que terá de enfrentar enquanto presidente, é apenas natural que Obama venha a desiludir uma parte considerável das pessoas cujas expectativas são demasiado altas para serem correspondidas.
Existe porém um tema cuja importância torna-se premente e de natureza ameaçadora.
No mesmo dia que Obama foi eleito presidente, Medvedev, presidente da Federação Russa, anunciou a instalação de um complexo de mísseis em Kaliningrado, um território russo situado entre a Lituânia e a Polónia. Esta medida surge como resposta ao escudo anti-missil dos Estados Unidos da América, este realizado com a conivência dos governos de alguns países do leste europeu pertencentes à UE, para prevenir ataques de mísseis iranianos.
Tanto as razões dos EUA para instalarem o escudo como as da Rússia para retaliarem são rebuscadas. Nem o escudo preveniria por completo um ataque iraniano nem a Rússia deixa de ter espaço livre para atacar os próprios EUA, mas a recente assunção da pose bélica russa ao atacar a Geórgia em Agosto deste ano e sair impune de sanções deu uma validade moral à Rússia de tomar o lugar de potência militar na Europa.
O continente europeu, que desde a Segunda Guerra Mundial não sofreu nenhuma guerra devastadora, vê-se agora perante um vizinho ressentido da falhada experiência soviética e moralmente validado para assumir o espectro de potência bélica da Europa, cujas nações perderam demasiado tempo a serem subservientes às vontades e medos retrógados da América.
O verdadeiro sentido da Mudança de Obama não existe para os europeus a descobrirem e seguirem, mas para os europeus a compreenderem a utilizarem os seus pontos fracos para retirar a hegemonia aos Estados Unidos da América, que tem sequestrado o mundo desde meados do século XX, pois em todo o discurso do presidente eleito dos EUA é possível ver a vontade da perpetuar o controlo americano e capitalista sobre o mundo, através do militarismo e do mercado livre.
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