quarta-feira, 29 de julho de 2009


«A ilusão de liberdade continuará enquanto for lucrativo manter essa ilusão. A partir do momento em que a ilusão for demasiado cara para ser mantida, eles deitarão abaixo o cenário, subirão as cortinas, retirarão as mesas e as cadeiras do caminho e então poderás ver a parede de tijolos no fundo do teatro.»
- Frank Zappa

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Coisas do diabo...


Num estudo feito no dia 26 de Junho de Junho aos alemães da antiga RDA pelo jornal Berliner Zeitung, foi revelado, num universo de 1208 pessoas, que a maioria prefere o socialismo à versão capitalista da sua actual região.

No estudo "49% dos inquiridos responderam que «haviam alguns problemas, mas globalmente vivíamos bem»", enquanto 8% afirmam que "«na RDA havia sobretudo aspectos positivos e que vivíamos felizes e melhor do que na Alemanha reunificada de hoje»".

Ao todo 57% da população inquirida preferiu o Socialismo como modelo de sociedade e economia.

Para explicar estes números temos os números do desemprego que no território da ex-RDA ronda os 13,2%, sensivelmente o dobro do registado nos estados alemãos ocidentais.

Da mesma maneira que os salários são mais baixos Alemanha Oriental (7,18 € brutos/hora) que na Ocidental (9,62€ brutos/hora) e que esses mesmos salários não só não aumentaram como chegaram a descer, apesar de «70% dos trabalhadores dos sectores onde o custo do factor trabalho é menor» ter «um curso profissional certificado».


Os responsáveis políticos do governo alemão, reparando na preferência dos alemães de leste pela antiga RDA, em vez de repararem nas condições precárias da população afirmam que "os resultados «provam que tem de se continuar a falar sobre a história da RDA»".

Curioso que se tenha de ensinar melhor a História a um povo que a viveu e se baseia nessa experiência para preferir o Socialismo ao Capitalismo.
Também há uns meses vasculhava o site do ElPaís e lá vinha uma notícia de que num estudo feito aos russos perguntando-lhes de que lado ficavam caso ocorresse agora a Revolução de Outubro, os resultados ficaram literalmente divididos, 50% para cada lado.

Por muito que se adorne a realidade, a luta de classes existe como verdade experienciada socialmente, à prova das camadas de ilusão e da mediatização capitalista.

domingo, 5 de julho de 2009

Duplo Critério (Parte 2)


Outro exemplo de como os Media escolhem muito bem quem defendem e quem ignoram podemos encontrá-lo na cobertura noticiosa do golpe de estado das Honduras.

No dia em que o golpe de estado rebentou a página online da CNN tinha como notícia principal a informação de que 5 mil iranianos protestavam silenciosamente em Teerão.

Mais tarde o golpe de estado tornou-se notícia de primeira linha, mas como não há bela sem senão, eis que os órgãos jornalísticos explicavam este evento político, justificando-o. A irrefutável autoridade da opinião dos jornalistas expunha então que houve um golpe de estado levado a cabo pelos militares, mas que surgiu apenas devido à tentativa do presidente deposto Manuel Zelaya se "eternizar" no poder, ou seja...alargar o número de mandatos presidenciais de um para...dois, possibilitando a reeleição de Zelaya, que embora eleito pelo Partido Liberal (de direita, obviamente) fez uma viragem de esquerda e socialista nos últimos anos, embarcando na "onda bolivariana" que tem varrido os países da América Latina, fustigados desde décadas pelo neo-colonialismo, encabeçado pelos EUA.

Apesar de não ter havido nenhum referendo nas Honduras sobre a reeleição, mas apenas uma consulta eleitoral para que se adicionasse uma quarta urna nas próximas eleições naquele país, de modo a que se pudesse votar então a possibilidade do duplo mandato presidencial, os Media e "peritos" políticos logo alardearam com o Chavismo e as derivas autoritárias em democracias, apesar de Álvaro Uribe na Colômbia e Fernando Henrique Cardoso terem feito exactamente o mesmo.

Mas como Zelaya desligou-se ideologica e politicamente da oligarquia económica-militar das Honduras, eis que as suas medidas deixaram de ser um oásis de democracia no meio de uma onde "ditatorial" de esquerda para passarem a ser um "perigo" à democracia num continente "fragilizado".

Os embaixadores de Cuba, Venezuela e Nicarágua e a Ministra dos Negócios Estrangeiros Hondurenhos foram sequestrados, a Organização dos Estados Americanos e a União Europeia já condenaram o golpe de estado, o povo hondurenho saiu à rua e nas últimas semanas tem posto o regime oligarca a ferro e fogo.

Como resposta, o Partido Liberal, cabeça-mor da oligarquia hondurenha já demitiu o Presidente Zelaya com base numa carta de demissão que ele mesmo não admitiu ter escrito e elegeram um homem do «establishment» liberal-militar, Roberto Micheletti e cortaram grande parte das liberdades civis e individuais.


Os liberais mostram de que fibra são feitos, à primeira contrariedade posta à oligarquia capitalista, eis que nenhuma violação dos direitos dos cidadãos é considerada um crime nas suas consciências.

E os Media? Bem, como Zelaya não é dos seus, ao contrário do grupelho controleiro que manipula as Honduras a seu bem-querer, tudo isto é ignorado.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Duplo critério (Parte 1)

Voltando a abordar a suposta imparcialidade da Imprensa, aqui está um exemplo claro de como os Media só promovem determinados conflitos sociais, curiosamente, os conflitos que mais convêm às elites económicas e financeiras.



O El Pais, na sua página inicial na net tem um espaço dedicado à situação que se passa no Irão, porém, se olharmos para o lado vemos um pedaço rectangular do site que se refere ao Peru.

Para quem não conhece a situação neste país sul-americano, o que deve ser uma boa proporção de gente dado à quase inexistência de notícias sobre estes conflitos, o que se passou foi que o governo pró-Mercado Livre de Alan Garcia lançou dois decretos legislativos (1090 e 1964) que previam a entrega, gestão e exploração dos recursos naturais lá existentes às empresas multinacionais.

Sem sequer olhar para os 9% da população peruana que habitam no território amazónico, o governo lançou-se nesta privatização com o objectivo de «modernizar» o país de modo a promover o seu avanço. Mas que avanço? O da população peruana, que tem 44,5% dos seus cidadãos a viver abaixo do limiar de pobreza? Ou o das empresas multinacionais, que poderão aumentar o seu Capital e continuar a fazer gato-sapato das populações dos países de terceiro-mundo em benefício das oligarquias económicas locais e ocidentais?

As populações indígenas peruanas, não se resignaram nem desistiram de actuar politicamente, unindo-se e protestando contra a privatização da sua "casa". Resultado, a Ministra do Interior, Mercedes Cabanillas e o primeiro-ministro Yehude Simon ordenaram a intervenção policial violenta sobre os manifestantes, causando a morte de 34 pessoas e o «desaparecimento de pelo menos outras 60».

Das revoltas "democráticas" e "populares" que convem ao Capital, os Media tudo fazem para promover a causas do momento, porém aos mortícinios que o Capital promove em nome da "modernização", são inteligentemente postos num panorama secundário.
-Infelizmente não consegui dar melhor qualidade à imagem.