quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Apontamentos


Sendo muitos os assuntos a abordar e aqueles que já passados continuam a merecer referência, escrevo nas próximas linhas os meus habituais "apontamentos". De quando a actualidade é demasiado rica para se debruçar caso a caso.

Começo por resumir o que foi a cimeira de Copenhaga nos últimos dias, antes da cerimónia de encerramento marcada pelo já rotineiro discurso de Obama. Aguçou-me a curiosidade todo a repressão policial nas ruas da capital dinamarquesa enquanto Primeiro e Terceiro Mundo desacordavam entre paredes. Comparo estas imagens com as da insubmissão "popular" nos anteriores regimes fascistas na Europa e na América Latina. Gente a protestar e a polícia a carregar em cima. No primeiro dia de protestos prenderam-se 968 pessoas e ao longo das manifestações cerca de 300 eram detidos pelas forças de segurança. Que moral têm estas aventesmas para reclamar a democracia e criticar o socialismo? Quem não mostrou meias medidas na denúncia do crime do Capitalismo em todo o planeta e na degradação que traz ao ambiente foi Hugo Chavez. Imperdível a sua declaração, «Se o clima fosse um banco, vocês já o teriam salvado». Existam figuras políticas com esta verticalidade! São das melhores armas contra a hipocrisia que fede do discurso das comissões políticas do Capital.

Já que pegámos em Chavez, façamos uma pequena anotação do que tem vindo a acontecer na América Latina. Na Bolívia, Evo Moralez e o seu partido Movimento al Socialismo ganhou as eleições com mais de 60%, destroçando a direita e reafirmando o Socialismo. No Uruguai, Pepe Mujica, cabeça de lista do Frente Amplio, de esquerda progressista também venceu, assistindo-se assim ao incremento das políticas sociais na América Latina e na resistência dos povos ao Imperialismo estado-unidense.

No Chile, onde a direita reina sob a máscara de democracia depois do fascismo de generais de Pinochet, as eleições presidenciais vão pôr em competição o direitista da Concertácion, Eduardo Frei, formação social-democrata no poder desde a instauração do regime democrático, e Sebastian Piñera, candidato conservador da Coalicion para el Cambio, possuidor de uma fortuna avaliada em mil milhões de dólares obtida no sector financeiro.

O conservador multimilionário Piñera venceu a primeira volta das eleições presidenciais, contudo espera-se que os eleitores que depositarem o seu voto no candidato apoiado por socialistas e comunistas, Jorge Arrate, devolvam o voto ao social democrata Frei. Veremos se assim acontecerá.

Contudo, é na câmara de deputados que aconteceram surpresas positivas com a eleição de três deputados comunistas pela primeira vez desde o golpe de estado de 1973. Não esquecer que a câmara, foi construída politicamente pelo Congreso Nacional de Pinochet através da lei eleitoral binominal e as várias iniciativas para desmantelar este órgão e criar um novo, de arquitectura mais democrática e plural, falharam.

Ainda na América Latina, Porfírio Lobo sagrou-se presidente das Honduras numas eleições que contaram com a participação de aproximadamente 35%, depois de uma campanha pré-eleitoral que teve a repressão contínua do liberal Micheletti e seus caciques.

A Norte, nos Estados Unidos da América, o Presidente Obama anunciou o envio de 30 mil soldados para o Afeganistão para aplacar a resistência afegã, apelada cinicamente pelos Media de "talibã", na zona da fronteira com o Paquistão, conhecida como Waziristão. Onde passa muito oportunamente o gasoduto trans-afegão que assegura a transferência de gás natural das ex-repúblicas soviética da Ásia Central para o exterior, especialmente a China.

Como nota final de realçar o falecimento de Iegor Gaidar, russo que desenhou e implementou sob a tutela de Ieltsin a terapia de choque que levaria a miséria, a morte, a pobreza e a indigência ao povo russo, deixando-o nas mãos dos gangues, enquanto dispunha das lucrativas indústrias soviéticas à máfia oligarca. Naturalmente, era muito admirado nos círculos políticos e económicos da Europa e dos Estados Unidos da América por ter trazido a «ocidentalização» à Rússia de forma tão "democrática".

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